segunda-feira, 30 de maio de 2016

Governo Temer

TEMER e o GRUPO GLOBO
O editorial do jornal O Globo de hoje parece um manifesto em favor do judiciário como salvação da política brasileira (que seria isso?), além de peça de sedução do leitor para que este esqueça que João Roberto Marinho, presidente do conselho editorial do Grupo Globo, foi citado nas gravações feitas por Sérgio Machado, delator na operação Lava-Jato, divulgadas ao longo desta semana. Ironicamente o texto começa dizendo que o conjunto dessas gravações "já reúne preciosos subsídios para cientistas políticos estudiosos de plutocracias e oligarquias nacionais."
Na definição de Aristóteles oligarquia é o governo dos ricos, ou seja, para ele plutocracia e oligarquia são a mesma coisa. Mesmo assim, se mantivéssemos oligarquia e plutocracia como fenômenos distintos, o primeiro eminentemente político e o segundo eminentemente econômico, João Roberto Marinho poderia ser enquadrado tanto numa quanto noutra categoria, pois o Grupo Globo, no qual é comandante e sócio, é uma organização privatista que condensa poder político e econômico ao nível das mais altas esferas nacionais. Estudar a classe política (classe dirigente+classe simbólica) brasileira sem considerar o poder privatista do Grupo Globo é ignorar uma parte fundamental de tal classe. Nas gravações de Sérgio Machado Renan Calheiros declara que Dilma Roussef, ainda presidente da República, teria conversado com João R. Marinho para que este influenciasse o noticiário em favor dela. O que, segundo Renan, J. R. Marinho costuma fazer em casos semelhantes ao de Dilma.
O mais grave desse editorial não é a ironia supracitada e o desrespeito que ela comete com a inteligência do leitor, mas sim a forma como ele contrapõe a suposta isenção do Judiciário, que se comportaria "distante de interesses pessoais, livre para decidir com base em fatos", com a "a falta de pudor com que grupos políticos se movem em defesa própria". Ora, as próprias gravações do delator Machado fornecem elementos suficientes para entendermos que o STF não é impermeável às demandas das altas rodas da oligarquia nacional. Outras escutas de diálogos da classe política, divulgadas este ano, também corroboram isso. O golpe de Estado 17D em que o STF usurpou a soberania da Câmara dos Deputados no processo do impeachment também deixou claro que aquele tribunal não atua só em favor do estado de direito, como diz O Globo.
O editorial de O Globo aponta claramente que o principal ator no proscênio político é o judiciário (STF) e que a classe política perdeu ainda mais credibilidade depois das revelações de Sérgio Machado. Será que um dos objetivo do Grupo Globo com este editorial é expressar suas dúvidas quanto à capacidade de Temer gerir a crise política? Teria também o sentido de apontar como única saída para o Brasil, diante da falência política da oligarquia lumpesinal, o estabelecimento de uma ditadura do judiciário (STF)? Essa ditadura manteria a semblância de democracia ou radicalizaria na aprovação de mais mutilações ditatoriais da forma política objetiva, como faz o projeto de lei que censura a comunicação digital no Brasil (proposto pela CPI dos crimes cibernéticos)?

Editorial O Globo II
Novamente o jornal O Globo publicou um editorial confrontando o governo Temer. Qual é o significado de tal ação do Grupo Globo? Ele está reivindicando mais poder sobre o governo Temer? O Grupo Globo não acredita na viabilidade do governo Temer e esses editoriais representam o distanciamento que o G.G. quer manter da gestão do presidente interino?
O Jornal da Globo News das 16 horas repercute amplamente o caso tratado no editorial supracitado: gravações mostrando críticas do ministro da transparência contra a Operação Lava-jato. Naquele noticioso da Globo News os senadores Cristovam Buarque e Álvaro Dias disseram ser insustentável a continuidade do ministro no cargo, principalmente por se tratar de pasta responsável pelo combate à corrupção.
O editorial citado acima reivindica a imediata demissão do ministro, pois para O Globo "só assim será levado a sério o compromisso público assumido pelo presidente de apoiar a Operação Lava-jato e todo o combate à corrupção. Isso é tão essencial para o governo Temer como a contenção da crise econômica", pontifica o jornal carioca. O Grupo Globo parece querer dizer neste trecho que o compromisso de Temer com a recuperação econômica não é suficiente para garantir seu apoio ao governo. O Grupo Globo quer mesmo que continue a "Operação e todo o combate á corrupção"?
O G.G. sabe que o aprofundamento da Lava-jato e de outras investigações, como a Operação Zelotes, implodirá a classe política brasileira. Isso foi explicitado por Renan Calheiros e José Sarney em gravações divulgadas semana passada. Trata-se de dois oligarcas que estão entre os maiores conhecedores dos bastidores políticos do Brasil. A defesa das operações anti-corrupção pelo Grupo Globo é uma aposta na derrocada da oligarquia brasileira? Quem vai governar o Brasil se acontecer isso? Um governo do judiciário (STF) com o apoio das Forças Armadas seria o sonho oculto do maior grupo de mídia do país? Este tipo de governo seria viável sem a semblância democrática atual? Ou o Grupo Globo estaria apenas em busca de uma posição de força ainda maior no novo governo? Existe uma alternativa democrática à crise da oligarquia brasileira: eleições gerais em 2016. Mas o Grupo Globo nunca se mostrou favorável a isso.

COLAPSO DO ESTADO SANITÁRIO
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36401063
A crise em torno do Zika vírus começou no governo Dilma e continua no governo Temer. As doenças disseminadas pelo Aedes Aegypti (Zika, Chicongunya e Dengue), a grande proporção de residências ainda sem esgoto e água tratada, os lixões, a epidemia atual de H1N1, a falta crônica de vários tipos vacinas nos postos de saúde em todo país, a crise hídrica em São Paulo, são fatos gritantes que mostram o colapso sanitário do Estado brasileiro. Isso é responsabilidade de todos que governaram o Brasil nas últimas décadas. A classe política brasileira é anti-sanitária. Ela não segue a racionalidade científica em matéria de saúde pública.
Agora estamos prestes a testemunhar a aceitação da semblância sanitária da classe política brasileira pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e pela OMS (Organização Mundial de saúde). Com o assentimento destas duas organizações mundiais pela realização das Olimpíadas em agosto no Rio o colapso sanitário do Estado brasileira será normalizado com o poder simbólico destas duas instituições. Há menos de uma semana atrás o Congresso aprovou mudanças na Constituição que diminuirão o percentual anual do gasto público em saúde. A indiferença da oligarquia brasileira com a saúde da população nacional será estendida agora à população mundial com o apoio do COI e da OMS.
U manifesto divulgado dias atrás por mais de 100 renomados cientistas da área de saúde, de vários países, mostra que a classe científica mundial se preocupa mais com a saúde pública do que com os lucros e votos que serão capitalizados por empresas e políticos com os jogos olímpicos. "Um risco desnecessário é colocado quando 500 mil turistas estrangeiros de todos os países acompanham os Jogos, potencialmente adquirem o vírus e voltam para a casa, podendo torná-lo endêmico", diz o texto. O principal risco seria que atletas contraíssem a doença e voltassem para suas casas em países pobres que ainda não foram afetados pelo surto da doença."

GOVERNO ANTI-NACIONAL
Este texto poderia ter a palavra golpe ou a expressão golpe de Estado no título. Preferi não usá-las para não me confundirem com os defensores do mito bolivariano da imensa maioria da esquerda brasileira. Esquerda sim, mas bolivarianismo não dá. O verdadeiro golpe de Estado aplicado pela Nova Direita aconteceu na madrugada de ontem no Congresso e foi mistificado na tela eletrônica. Salvo algumas honrosas exceções, os jornalistas de papel também foram complacentes com a conspiração. Sem dar a devida tramitação ao projeto de Henrique Meirelles de conter os gastos orçamentários nos próximos anos, o governo Temer fez aprovar no Congresso uma legislação que fere os princípios da Constituição de 1988 em relação à saúde e educação.
"Mais que isso, trata-se de reescrever, na prática, as normas introduzidas na Constituição de 1988 para os desembolsos em saúde, educação, amparo ao trabalhador, previdência e assistência social."
O governo aprovou regras para os gastos em saúde e educação para os próximos anos que reduzirão o percentual da arrecadação destinado a cada uma dessas áreas. Com isso as partes obrigatórias do orçamento que a Constituição determinava para saúde e educação vão diminuir. Uma das características do governo Temer agora já está clara: é um governo anti-nacional. A nação só é uma coisa concreta na medida em que se materializa de alguma forma. No caso do Brasil ela é precariamente mantida pelos direitos sociais universais de saúde e educação. De agora em diante está estabelecido na lei que a Nação brasileira é cada vez menos real e cada vez mais imaginária.

JUCÁ e a POLÍTICA BRASILEIRA
As gravações de conversas entre o ministro Romero Jucá e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, revelam coisas além da intenção de "estancar" a Operação Lava-jato. Romero Jucá expõe sua análise da classe política brasileira em relação à Operação Lava-jato. Jucá diz que se a Lava-jato seguir seu curso "nenhum político desse tradicional ganha eleição". Jucá parece se referir especialmente à eleição para presidente da República, já que neste trecho citado a conversa girava em torno de Aécio Neves, que Sérgio Machado avalia que não terá mais carreira política se a Lava-jato o investigar. Em relação a isso Machado diz: "O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...", ao que Jucá responde: "É, a gente viveu tudo."
O repúdio à operação Lava-jato, segundo Jucá, seria unânime entre alguns líderes do PSDB, entre eles Aécio, Serra, Aloysio N. Ferreira e Tasso Jereissati. A conversa citada mostra, inclusive, como ministros do STF são interlocutores dos políticos em sua busca por "estancar" a Operação Lava-jato.

EDUARDO CUNHA e o GOVERNO
O governo Temer já nomeou dois aliados de Eduardo Cunha para funções no Governo, sendo a mais importante delas a de líder do governo na Câmara. Além disso o "novo ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), concedeu passaporte diplomático com validade de três anos ao pastor Samuel Cassio Ferreira, da Assembleia de Deus, ligado ao presidente afastado da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ." (G1). Samuel era diretor do templo da Assembleia de Deus de Campinas (SP) que, segundo a Procuradoria Geral da República, teria recebido depósitos que somam R$ 250 mil supostamente oriundos de propina paga a Eduardo Cunha.
Eduardo Cunha foi um agente estratégico para a abertura do processo de impeachment de Dilma Roussef. Temer não teria assumido a presidência do Brasil se não fosse pela ação de Cunha. Além desta dívida política, não é improvável que Cunha detenha informações suficientes para inviabilizar o governo Temer, no caso de decidir, por exemplo, fazer uma delação premiada para os procuradores da Operação Lava-jato. Não é preciso ter uma grande malícia política para entender que o atendimento à demandas de Cunha é algo fundamental para garantir o silêncio deste e, com isso, a continuidade do governo Temer. As massas pró-impeachment de Dilma continuarão passivas diante da quase explícita presença de Cunha no Governo?

ULISSES e o MINISTRO da SAÚDE
O ministro da saúde, Ricardo Barros (PP-PR) "disse que, quanto mais gente puder ter planos de saúde, maior será o alívio do governo para sustentar o SUS. Em seguida, questionado se não deveria ser o contrário, com um estímulo para um SUS melhor, ele respondeu: "Infelizmente, a capacidade financeira do governo para suprir todas essas garantias que tem o cidadão não são suficientes. Não estamos em um nível de desenvolvimento econômico que nos permita garantir esses direitos por conta do Estado".
O que as declarações do ministro da saúde tem a ver com um Estado de direitos? Repare que esta palavra está no pural. É aquele Estado que garante direitos básicos à população. O direito à saúde é um direito básico? A Constituição de 1988 diz que sim. O primeiro passo para construir um Estado de direitos é a afirmação dos direitos na letra da lei. Ao fazer isso o legislador coloca o Estado de fato em dívida com o Estado de direitos e abre a possibilidade de cobrança permanente dessa dívida pela população. O primeiro passo para acabar com o Estado de direitos é afirmando a impossibilidade daquela dívida ser paga. O Segundo passo é a abolição dos direitos na letra da lei e assim a lógica do Estado de fato suprassume a lógica do Estado de direitos. Diante desta fala do ministro da saúde, Ulisses Guimarães pode ser considerado um revolucionário.

NOVA DIREITA versus BOLIVARIANISMO
O governo Temer estabeleceu que a construção de uma semblância democrática de si passa pelo aparelhamento da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), que nos anos de Lula e Dilma tornou-se um aparelho eletrônico da cultura política bolivariana. A destituição do presidente da EBC por Temer e a forte reação dos blogs bolivarianos contra isso, mostra que trata-se de uma acirrada disputa molecular com vistas ao convencimento das massas intelectuais de que o governo Temer não é um governo anti-nacional da Nova Direita.
A construção de um autêntico órgão PÚBLICO de comunicação, infelizmente, passa ao largo dessa disputa oligárquica entre a Nova Direita e a decadência bolivariana.

GOVERNO TEMER
A crise do governo Dilma abriu uma fenda de indefinições políticas no sistema de dominação, que fez com que se ventilassem vários desfechos para a situação. Alguns desfechos propostos eram delirantes (golpe militar anti-governo ou pró-governo etc), outros, oportunistas e ilegítimos (parlamentarismo etc), mas um deles considero de legitimidade e eficácia inquestionáveis: a convocação de eleições presidenciais para 2016, através de emenda constitucional, pois baseia-se no princípio da soberania popular, o mais fundamental de nossa ordem político-jurídica.
Aberto o processo de impeachment pelo Senado e empossado o vice como presidente interino, já há claros sinais de que aquela fenda esteja se fechando. Isto pode ser apenas temporário, mas o principal objetivo do novo comando presidencial é fazer com que a fenda de possibilidades continue a se fechar até que o sistema de dominação se estabilize novamente. O que quer dizer que o principal objetivo do governo é a eliminação total da hipótese de eleição para presidente ainda este ano. A remoção de Temer da cadeira presidencial parece ser cada vez mais remota na medida em que ele consiga liderar a reaglutinação de forças políticas e sociais que se formou em torno do impeachment.
O governo Temer liderará forças políticas e sociais no sentido da formação de uma Nova Direita Latino-americana, como demonstrou o cientista político José Paulo Bandeira em texto publicado recentementehttps://www.facebook.com/groups/1544906145806373/permalink/1548859495411038/. Nesse texto o autor pontua que o trabalho de trans-subjetivação da massas em relação ao governo Temer passará pela construção de “uma hegemonia que fosse cinicamente semblância e uma dominação (narrativa-força) obscenamente estratégica girando em torno da mentira deslavada, da manipulação, do manietar, da sugestão psicótica, da simulação e da dissimulação para fazer a gestão das massas cidadãs, retirando seus direitos constitucionais.”
A foto de capa deste grupo é a imagem da Constituição de 1988 porque concordo com a citação acima. O governo Temer já está sugestionando a população no sentido de fazê-la aceitar que a eliminação dos direitos sociais de 1988 como a saída inevitável para a crise econômica, pois transferência do dinheiro público para as atividades econômicas do setor privado é o único horizonte de retomada do crescimento econômico que o governo Temer sinaliza. Isso não é somente uma visão econômica de direita no sentido de que significará maior concentração de renda, também é uma ação anti-nacional pois destruirá o principal laço de ligação entre as massas populares e o Estado nacional.
Uma das características fundamentais do governo Temer é, portanto, o seu caráter anti-nacional. Não no sentido dos nacionalistas defensores do capitalismo autárquico que nos levou à ruína econômica e à desconexão cada vez maior da economia nacional em relação ao estágio digital do capitalismo mundial. O governo Temer é anti-nacional no sentido do da dissolução do laço econômico-social estatal que mantém o povo brasileiro amalgamado materialmente, mas isto é tema para ser detalhado num próximo texto.

terça-feira, 17 de maio de 2016

A Nova Direita em debate

por Almir Pereira

O jornal Folha de São Paulo (FSP) entrou no debate acerca da Nova Direita no Brasil. Em matéria publicada na edição impressa de ontem, 16 de maio, o maior jornal do país tentou analisar o fenômeno com o auxílio de especialistas nacionais e estrangeiros. Leia essa matéria aqui e confira como ela infelizmente não caracteriza o que seria a nova direita. O que é apontado como nova direita, na verdade é a nova geração de seguidores da velha direita. A matéria passa ao largo da reformulação significante que fundamenta o surgimento de uma direita “nova”, diferente daquela velha conhecida dos dicionários de ciência política. Na verdade a matéria em tela está mais para uma depreciação do debate acerca do tema. Algo como uma rápida passagem pelo assunto para afirmar que não se trata de um tema consistente e, por isso, sem relevância suficiente para que se continue a debatê-lo.

Coincidentemente, embora Freud tenha deixado mais do que claro o quanto as coincidências são suspeitas, nos dias que antecederam a publicação da Folha, a Nova Gazeta Renana Digital publicou artigos discorrendo sobre o mesmo tema. Embora seja um fato tabu, pois nunca é explicitado, uma parcela relevante dos intelectuais interessados ou especializados em política acompanha com atenção a obra do cientista político José Paulo Bandeira, autor dos dois artigos publicados na Nova Gazeta. Por isso, não é improvável que a Folha quisesse, com o texto supracitado, se contrapor à argumentação do professor Bandeira, criador da física geopolítica lacaniana.

Para Bandeira o núcleo do fenômeno Nova Direita é a formação de um centro tático que deslocou o “Centrão” e o BBB (boi, bala e bíblia) do papel de formuladores da narrativa da direita brasileira. A Nova Direita constitui-se em torno da tarefa de elaborar uma “semblância democrática” para o governo Temer através de “ações intelectuais que vão persuadir as massas intelectuais de que o governo Temer não é uma máquina de guerra ditatorial.” Para a Folha de São Paulo, a presença de FHC (PSDB) no governo Temer é suficiente para caracterizar tal governo como progressista e de centro-esquerda? Ao contrário, a Nova Direita é, para J.P.Bandeira, um “centro tático cultural político”. Esse “bloco transideológico” (a Folha não sabe o que é transideológico, ela continua ancilar da era ideológica) já está operando pela ação do Grupo Globo, de renomados acadêmicos (USP, principalmente) que comentam a política e a economia na tela eletrônica (vários deles egressos da esquerda) e da imprensa de papel. O patrono intelectual da Nova Direita é ninguém menos que Fernando Henrique Cardoso.

Curiosamente, a matéria da FSP supracitada aponta como principal dificuldade para o renascimento da direita no Brasil a falta de quadros intelectuais. Como a matéria da Folha pensa em termos da velha direita seu raciocínio é internamente correto, embora ela se esqueça do papel intelectual nada desprezível do trio Olavo de Carvalho, Luís Felipe Pondé, Marco Antônio Villa, na articulação intelectual da velha direita. O fato é que o texto publicado pela FSP demonstra que o jornal está capturado pela semblância centrista da Nova Direita. Enquanto a Folha continuar assim, qualquer menção ao tema por ela significará uma tática de dissimulação e manipulação trans-subjetiva das massas leitoras daquele jornal paulista.

Leia abaixo os artigos de José Paulo Bandeira:

A NOVA DIREITA LATINO-AMERICANA

Na passagem do governo Dilma/Lula/PT para o governo Temer, um fenômeno tomou conta do espaço cultural político. Trata-se da NOVA DIREITA. A velha direita era o “Centrão” e o B.B.B no Congresso. Seus intelectuais são Olavo de Carvalho, Luís Felipe Ponde, Marco Antônio Villa e Simon Schwartzman. A Nova Direita deu um centro tático para a direita em geral, reorganizando-a. Nesse centro tático encontra-se o PMDB/PSDB/DEM/PPS (formado pelo pessoal do velho PCB).

A reorganização/mudança no campo intelectual é notável. Ela inclui antigos intelectuais da esquerda petista (revolução cultural política molecular) como José Álvaro Moisés, peemedebista como Adriana Rattes, do ex-PCB como Stepan Nercessiam, e uma certa esquerda liberal democrática como Bolívar Lamounier. Não se pode esquecer nessa passagem molécula intelectual da esquerda para a Nova Direita Fernando Henrique Cardoso e Boris Fausto. A nova geração da velha ciência política como Carlos Mello e os jovens intelectuais da FGV são parte desse centro tático cultural político Nova Direita. Memorável é a chefe da velha escola de ciência política da USP reaparecer a Fênix como chefe da escola de ciência política da Nova Direita (Lourdes Sola). Ex-althusseriano radical, José Augusto Guilhon de Albuquerque provavelmente fará a epistemologia política militar do campo de poder Nova Direita. Entre os economistas, o leitor deve prestar atenção em Claudio Frishtak! Jose Eduardo Campos de Oliveira Faria é o estrategista que articula a interseção entre a comunidade jurídica, a USP, o jornal o Estado de São Paulo, a GloboNews e a Okhrana.

Na sociedade do espetáculo eletrônico, O Grupo Globo é, destacadamente, o aparelho transideológico eletrônico da Nova Direita. Programas como GloboNews Painel, Fatos e Versões, Alexandre Garcia, Miriam Leitão, Entre Aspas, Roberto D’Ávila são o instrumento da formação da opinião pública eletrônica da Nova Direita para as massas intelectuais sujeito zero esquerda. O programa Mário Sérgio Conti bolivariano continuará existindo para que o Grupo Globo se apresente como uma televisão que não serve, agora, à Nova Direita, como serviu até pouco tempo ao poder bolivariano.

Os jornais de papel vão fazer de conta que não fazem parte do bloco transideológico Nova Direita. Eles precisam também dos leitores que não se identificam com este BLOCÃO. Podem fazer uma oposição simuladamente crítica, como será o caso da revista Veja. Tal fenômeno é análogo ao bloco histórico gramsciano? Neste a hegemonia é soberana através de uma narrativa democrática que unifique a classe política e faça tal classe governar as massas disponíveis cultural politicamente para à Nova Direita.

O bloco histórico é hegemonia e dominação. O que eu vejo? Uma hegemonia que fosse cinicamente semblância e uma dominação (narrativa-força) obscenamente estratégica girando em torno da mentira deslavada, da manipulação, do manietar, da sugestão psicótica, da simulação e da dissimulação para fazer a gestão das massas cidadãs, retirando seus direitos constitucionais.

Cabe ao bloco transideológico a práticas das ações intelectuais que vão persuadir as massas intelectuais de que o governo Temer não é uma máquina de guerra ditatorial. Por isso, a comunidade jurídica terá um lugar estratégico na articulação do bloco de poder Nova Direita.

O romancista Mário Vargas Llosa está sendo catapultado à posição de intelectual hegemônico da Nova Direita latino-americana. A ele cabe o papel de dar o ponta pé inicial na fabricação de uma narrativa jornalística que associe a Nova Direita com uma nova era democrática latino-americana em um contraponto à era ditatorial do populismo de esquerda, em autodissolução. Llosa arrasta o jornal El Pais para o bloco intelectual Nova Direita latino-americana.

À física geopolítica lacaniana cabe acompanhar a montagem da Nova Direita latino-americana como linha de força cultural política que cooptará a comunidade artística com a Secretária da Cultura com status de ministério, que será dirigida por um membro de tal comunidade. Percebam, como o bolivarianismo, a Nova Direita é latino-americana, portanto, antinacional.

Por enquanto isso basta para o leitor ver o fenômeno político Nova direita também como um fenômeno cultural político.


PROGRAMA GLOBONEWS PAINEL (15/05/2016)

No programa GloboNews Painel, Bolívar Lamounier divagou, com uma tediosa ira (Waldir Maranhão disse que “na política até a ira é combinada”) sobre a necessidade de destruição do Estado Nacional como um princípio liberal da filosofia política econômica brasileira moderna. Lourdes Sola e José Guilherme Guilhon de Albuquerque (professores da USP) batem palmas, mas acham que a destruição deve ser só a do Estado Nacional federal. Eles não querem a destruição do Estado Nacional no estado de São Paulo, pois, isso desmontaria a USP, e a classe política paulista.

O modelo "teórico" de Bolívar nos remete para o século XIX. Trata-se da velha dialética São Paulo versus Rio (capital do Império). O Rio representava o Estado imperial nacional patrimonialista e São Paulo a sociedade da fazenda oligárquica/liberal do café! Caro professor, o liberalismo brasileiro autêntico paulista é cultural político oligárquico!

A propósito, a leitura de Carl Schmitt de Bolívar é risível!

A concepção provinciana bandeirante liberal de Bolívar será a semblância democrática de um governo que tem como lema “Ordem e Progresso”. Este axioma cultural político da bandeira republicana brasileira significa a definição de um Estado republicano-força, sem ideias, (Bolívar tem uma visão vulgar universitária do conceito de ideia) que destruiu Canudos (Sertão cultural político do Nordeste) e o Contestado (Sertão cultural político do Sul). Além disso tal republica é aquela do populismo ditatorial aristocrático de Getúlio, do Estado Militar, do autocrático governo Sarney, da “ditadura romana” de Fernando Collor e da ditadura bolivariana liberal de FHC, e da era petista neopopulista!

É curioso os três participantes supracitados dizerem que o populismo de Getúlio é distinto do populismo de Lula/PT. Mas eles se negam a dar um nome para o “populismo petista”: bolivarianismo. A ira santa tediosa de Bolívar em relação ao PT é tamanha que ele se recusa a nomear a era petista como uma era da dominação da esquerda latino-americana no nosso continente, em alguns países, como Argentina, Venezuela, Uruguai e Bolívia. Assim, a narrativa cesarista da Nova Direita com semblância liberal democrática vai se construindo como um narrativa-força provinciana que bebe em ideias do cemitério da cultura intelectual liberal brasileira. São ideias ficcionais, ideias-espectrais sem força de realidade, sem força de lei! Tenha paciência! Vamos trabalhar mais!
É preciso um campo de pensamento para a produção de ideias. O único campo de pensamento atual na América-Latina é o da física geopolítica lacaniana!

As reportagens sobre o PCC ser uma força latino-americana no jornal paulista “O Estado de São Paulo” foram feitas pela Okhrana latino-americana. Eles se acham espertos? Sim! As reportagens começam a pavimentar a estrada trans-subjetiva (“ideia” original de Dilma Rousseff) nas massas intelectuais do Estado de Defesa (artigo 136) e do Estado de Sítio (artigo 137). Trata-se da instalação da ditadura fascista eletrônica com semblância liberal democrática constitucional. Bolívar Lamounier sabe disso e José Guilhon de Albuquerque fará a narrativa da epistemologia política militar dos artigos 137 e 137 para o Grupo Globo e, portanto, para o bloco de poder Nova Direita Latino-americana. Albuquerque tem uma sólida formação em filosofia política econômica althusseriana no assunto governo-máquina de guerra psicótica. Ele também tem formação lacaniana!

A física geopolítica lacaniana é a contranarrativa (em estado trans-subjetivo hegemonia) da narrativa-força (em estado ditadura) Nova Direita!

terça-feira, 5 de abril de 2016

Jornalismo Político

por Almir Pereira

A política é o principal tema do jornalismo eletrônico brasileiro atual e não só dele, mas essa forma de jornalismo é a principal forma de trans-subjetivação das massas brasileiras, daí a sua relevância. No jornalismo eletrônico, que é basicamente o jornalismo produzido pelas empresas de televisão, abertas ou por assinatura, a política é um artefato submetido à modelagem do noticiário, do comentário jornalístico e da análise especializada de profissionais universitários (cientistas políticos, professores universitários, juristas etc). Tanto na interpretação noticiosa quanto na interpretação do comentário jornalístico a política é um artefato que visa principalmente ao estabelecimento de uma trans-subjetivação grau zero do significante. Na análise especializada dos profissionais universitários a política é um artefato que visa principalmente a trans-subjetivação das massas intelectuais sujeito Ø espaço público procedural.

O espaço público procedural é aquele “que garante formalmente igual participação em processos de formação discursiva da opinião e da vontade e estabelece, com isso, um procedimento legítimo de normatização”(Lubenow, 2010). A análise especializada da política pelos profissionais universitários nos programas do jornalismo eletrônico adota uma perspectiva comunicacional privatista ao submeter-se à hegemonia da ciência política estadunidense, pois é principalmente com base nesta que os profissionais universitários, que comentam ou debatem a política nos programas do jornalismo eletrônico, operam a trans-subjetivação das massas intelectuais sujeito Ø espaço público procedural.


A ciência política estadunidense estabelece o predomínio do raciocínio substantivista, o que significa a supremacia da forma política objetiva na abordagem dos fenômenos políticos. A cultura universitária norte-americana dominante varreu para debaixo do tapete toda possibilidade de subjetivação das massas intelectuais pela cadeia de significantes que permite interpretar a política como cultura política (uma unidade entre forma política objetiva e trans-subjetividade). O debate sobre a democracia, por exemplo, na ciência política universitária dos USA regrediu assim a uma posição pré-platônica e pré-aristotélica, pois tanto a crítica platônica da simulação quanto a crítica aristotélica da degeneração democrática ficam bloqueadas pelo mito norte-americano da inquestionabilidade do caráter democrático de sua sociedade e de seu Estado. O que também acontece porque tal mito é um pilar retórico de sustentação do poder dos USA fora de suas fronteiras.

O Brasil atravessa uma das piores crises políticas de sua história. Esta constatação está em praticamente todos os comentários jornalísticos eletrônicos e análises de profissionais universitários especializados que o jornalismo eletrônico irradia através de seus programas diuturnos. O que é a crise atual? Quais os elementos que compõem a crise e como tais elementos interagem entre si? Qual é a dialética existente entre a trans-subjetivação das massas e as formas políticas objetivas? As formas do direito e sua aplicação são fenômenos de caráter meramente objetivo ou são produtos da trans-subjetivação jurídico-política das massas?


A proposta de processo de impeachment da presidente da República, em andamento na Câmara dos Deputados é um ponto de condensação da atual crise política brasileira. A interpretação dos diversos fatores envolvidos no andamento daquela proposta trouxe à superfície da cultura política intelectual a potência de verdade da física lacaniana da política. Só a física tem apontado para uma série de fatores determinantes que permanecem ocultos na programação jornalística do universo eletrônico. Não que tais fatores estejam evidentes em outros círculos da cultura política intelectual mundial. Se estivessem, fatalmente terminariam por afetar a cultura do jornalismo eletrônico brasileiro, que é apenas uma condensação nacional do capitalismo corporativo eletrônico mundial. Passemos a alguns exemplos da potência de verdade que o campo da física historial tem demonstrado.


Foi nas páginas digitais da física da política que veio à tona o 17-D, golpe de Estado do STF contra a soberania popular em 17 de dezembro de 2015. A passividade com que tal golpe foi recebido pelas massas intelectuais mostrou sua condição de sujeito Ø democrático quando se trata de defender as bases jurídicas da democracia contra a violação desta por quem quer que seja. A ascensão do STF à condição de poder imperial, em flagrantedelito contra a Constituição de 1988, inclusive passou a ser descrita cinicamente por comentaristas políticos com especialização jurídica como sendo o estabelecimento de um poder moderador. Ora, Poder Moderador foi um eufemismo pombalino criado por D. Pedro I para garantir para si um poder usurpador da soberania popular, depois de fechada a Assembleia Constituinte de 1823 pelas tropas do monarca.


Outro exemplo da potência supracitada é a explicitação do caráter golpista que o acoplamento da lei 1079/ 50 ao artigo85 da Constituição de 1988 instaurou sobre a política brasileira. Esse acoplamento foi um ato do STF no processo de impeachment de Collor, que não foi desfeito até hoje em razão do descumprimento pela classe política (especialmente o PMDB) do parágrafo único do artigo 85 da CF, que determina a necessidade de lei complementar para precisar o que são crimes de responsabilidade do presidente da República. A permanência desta legislação oligárquico ditatorial em sobreposição à Constituição Liberal democrática de 1988 é um segredo que bolivarianos de direita e de esquerda fazem questão de manter guardado a 7 chaves, e o jornalismo político eletrônico é cúmplice. A permanência de tal lei mantém aberta a porta para a derrubada do presidente da República por qualquer motivo insignificante (compra de um Fiat Elba com sobras de campanha, pedaladas fiscais etc) toda vez que a classe política cobiça o cargo de um presidente impopular.


Um estudo que visa o interesse público, como o que faz a física da política, não pode se expressar com a linguagem prosaica da maioria dos comentaristas universitários do jornalismo eletrônico da política. Tal qual o bisturi de um cirurgião, a linguagem da física busca construir a verdade com uma separação precisa entre o que é a lógica privatista e a construção efetiva da res publica. Poderíamos versar sobre outros exemplos em que isso se concretizou como a definição do caráter burguês do golpe de Estado Temer, a demonstração de que a política brasileira é amalgamada pela lumpencultura, a defesa das eleições gerais como única saída democrática para a crise política brasileira atual, a essência contra-democrática da lei anti-terror etc.







Lubenow, Jorge Adriano. Esfera pública e democracia deliberativa em Habermas. Modelo teórico e discursos críticos. Kriterion, vol.51, no.121, Belo Horizonte, Junho 2010.




sexta-feira, 25 de março de 2016

Lumpencultura, bolivarianismo e golpe

por Almir Pereira



Por que não tomar parte na luta de massas governistas e anti-governistas que ocupa as ruas a favor e contra o impeachment de Dilma Roussef? O impeachment é um golpe de Estado por falta de base jurídica como quer Dilma e seus aliados? O impeachment é o retorno do império da lei como querem os partidários do impedimento da presidente?

As massas sujeito zero burguês sabem que o segundo passo do impeachment é a implantação do Plano Temer, que vai atacar frontalmente os direitos sociais e o que ainda resta dos serviços públicos do país. Por isso tais massas se agarram à defesa da presidente como seu último baluarte de resistência ao plano burguês de Temer.


Acontece que ao fazer isso as massas sujeito zero burguês apostam em uma posição política regressiva, já que a contrarrevolução bolivariana de Dilma está acelerando a catástrofe econômica e política do Brasil. Dilma é parte da implosão econômica a que o bolivarianismo (Era FHC + Era Lulista) levou o país e sua reação à tal implosão é de uma indefinição extrema, inclusive com traços de reação anti-social. O desencaixe Brasil do capitalismo corporativo digital mundial em virtude da estratégia bolivariana de manter-nos sob o domínio do capitalismo de engenho lançou a nação no abismo da desindustrialização e da submissão ao capitalismo de commodities (agrícolas e minerais). A crise também é uma crise da hegemonia do capitalismo de commodities no bloco-no-poder.


Em uma demonstração de total falta de rumo e de inconsequência, Dilma acabou de sancionar a lei Mateus (lei Aloísio Nunes Ferreira – PSDB), a lei anti-terror, e garantiu um dispositivo totalitário funesto para que Temer aplique, assim que assuma a presidência, seu plano burguês contra as massas, do funcionalismo público e defensoras dos direitos sociais.


Outro traço míope das massas sujeito zero burguês ao apoiarem Dilma é o de se deixar subssumir à lumpencultura que é dominante no atual governo. JP Bandeira demonstrou em texto recente como a lumpencultura tem um papel preponderante na desterritorialização do Estado nacional. Subssumidas a tal cultura política as massas sujeito zero burguês alienam a defesa dos direitos sociais à subclasse política lúmpen, que tem como objetivo ontológico o uso privatista dos recursos públicos.


A garantia dos direitos sociais e do Estado brasileiro é indivisível de uma recusa frontal da lumpencultura da subclasse política. As massas sujeito Ø burguês estão inscrevendo-se no imaginário nacional como defensoras da fração lumpen de esquerda, da subclasse política brasileira.


Num provável governo Temer o combate a tais massas irá usar essa imagem para atacá-las como massas coniventes com a corrupção. No entanto, tais massas já se alienam ao imaginário bolivariano há décadas e seu destino já parece estar selado, assim como o destino do governo Dilma: ser suplantada por um golpe de Estado.


O tema do golpe de Estado colocou em campos opostos alguns ministros do STF e a presidente Dilma Roussef na semana que passou. Para Dilma não há base jurídica para seu impeachment, por isso o trâmite deste no Congresso seria um golpe de Estado em gestação. Para os ministros Dias Toffoli e Cármen Lúcia, do STF, se o Congresso aceitar a proposição de impeachment, que lá tramita atualmente, isso não é golpe, mas apenas um procedimento constitucional.


Do ponto de vista jurídico os ministros do STF estão corretos, excluindo-se o adendo que Eduardo Cunha fez à petição inicial baseada nas “pedaladas fiscais”. Cunha anexou ao pedido as denúncias feitas por Delcídio do Amaral ao Ministério Público Federal. Esta ação de Cunha foi uma flagrante ilegalidade golpista, que a Comissão Especial do Impeachment já corrigiu descartando tal anexo.


A questão do golpe de Estado não é jurídica como afirma Dilma. Ela é política. Conversando com um amigo acerca disso ele declarou: “se o atual processo for golpe, como quer a Dilma, então o impedimento de Collor em 1992 também foi golpe”, juridicamente meu amigo está correto, mas politicamente é a Dilma que está certa, embora ela não afirme que é um golpe de Estado apenas do ponto de vista político.


Em 1992, Itamar Franco desferiu um golpe de Estado em Collor e nas massas democráticas que se opunham ao déspota. Tomou o poder um político pusilânime que se manteve calado diante do despotismo collorido até vislumbrar o momento favorável à tomada do poder. A substituição do déspota pelo pacto oligárquico que gestaria o bolivarianismo de FHC+Lula não era o que as massas democráticas de 92 almejavam.


Já é quase um fato que o PMDB e congêneres desembarcaram da liderança que Dilma Roussef/ PT e Lula exercem no modelo político lúmpen? Por que isso está acontecendo? Porque não acreditam mais na capacidade de liderança destes para reorganizar a política e a economia e acham mais viável um novo pacto lúmpen-burguês com o PSDB. Porque o PMDB e congêneres chegaram a esta conclusão? Porque eles entendem que o programa de saída da crise está consubstanciado nos planos Temer I e II (capitalismo de engenho sem direitos sociais e sem o Estado brasileiro) e não lhes parece que seja viável fazer o PT aceitar isso, por mais que o partido de Lula já tenha feito várias concessões inimagináveis ao passado petista. Além disso, os conspiradores do PMDB-PSDB esperam que a derrubada do governo Dilma sirva de bode expiatório para salvar da Operação Lava-jato a fração lumpen-oligárquica (PSDB/ PMDB etc) que subirá ao poder com o impeachment.


Em 2016 o PMDB está consolidando “sua identidade de o maior partido conspirador da era da Constituição de 1988”. No texto deste link pode-se entender em detalhe como a não regulamentação, até hoje, dos crimes de responsabilidade do presidente da república, exigida pelo Parágrafo Único do artigo 85 da Constituição, de inspiração peemedebista, garante uma situação constitucional ao sabor da formação do algorítimo/consenso ditatorial da classe política contra o presidente da República”.

A conspiração de Michel Temer para aceder ao cargo de presidente da república não o transforma num criminoso? No emaranhado de crimes eleitorais que envolve a Presidente da República, seu vice e uma fração expressiva do Congresso Nacional só uma eleição geral em nível federal pode restabelecer alguma legitimidade nos termos da Constituição de 1988, para a qual o povo é o soberano. A dissolução da representatividade a que a lumpencultura relegou os poderes executivo e legislativo federais só pode ser superada por uma eleição geral limpa e confiável. Qualquer outra alternativa representa um golpe de Estado contra a soberania popular e o aprofundamento de conflitos que só podem nos levar em direção ao pior.

sexta-feira, 18 de março de 2016

De Karina Santos, "Ditadura Brasileira versus massas democráticas"

O texto a seguir foi muito bem escrito por Karina Santos. Tem uma concatenação digna de nota, o que, além do talento literário da Karina, parece também espelhar a clareza de pensamento que a física historial inspira em seus leitores. Karina soube captar as linhas de força principais que a leitura da política pela física clarificam: ditadura brasileira versus massas democráticas. Mas o principal no trabalho dela talvez seja a demonstração de que a física possibilita a saída do leitor dos anacronismos intelectuais que o universo acadêmico tanto patrocina. Karina tem a sensibilidade necessária para captar o real da política pelas lentes da física. Enfim, trata-se de uma leitora sintonizada com o século XXI. A parte final do texto mostra que ela reconhece o sentido principal da física historial: explicar a realidade concreta e não ser apenas mais uma forma de discurso universitário.

Ditadura Brasileira versus massas democráticas

Autora: Karina Porciuncula de Almeida Rodrigues Santos


Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx enfoca o período histórico no qual Luís Bonaparte chega à presidência na França, em 1848, até o golpe de Estado, em 1851. Em complemento ao que dizia Hegel sobre a repetição de acontecimentos na história, o livro alude a uma clássica passagem de Marx, sobre fatos e personagens acontecerem duas vezes na história da Humanidade, a primeira como tragédia e a segunda como farsa. Isto é, trata-se de dois personagens com igual sobrenome assumindo o “mesmo” cargo na França. Interessante são os contextos diferenciados, as classes modificadas, mas é sobre o sentimento dos indivíduos ao optarem por uma possível continuidade de governo, que se constrói a farsa de Luís.
Antes de se analisar a repetição histórica em França, deve-se elucidar sobre o porquê da obra de Marx estar ainda tão viva, seja na Academia ou nas instituições políticas, para aqueles que concordam e para os que discordam de sua ideologia, para liberais ou comunistas, pessoas com muita ou pouca experiência. As teses do autor não são presas a só uma disciplina, podendo ser vistas e revistas por amantes de sua Filosofia da Natureza, pelos agarrados a seu modo de análise, ao mesmo tempo, teórico e prático, mas certamente todos podem desfrutar de seu brilhante ecletismo. Dessa forma, os escritos de Marx são mais do que úteis, primordiais para se interpretar os dias atuais, tanto na observação de um modelo analítico, quanto na intrínseca comparação com o hoje, uma vez que, a história do mundo se repete, “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. (MARX, 1974).
Sobre o 18 de Brumário, “não é um texto científico ou literário”, sendo para Lenin, “o modelo do método análise concreta de uma situação concreta. Lenin deixou de explorar a verdadeira epistemologia política da obra que combinava interpretação com explicação, ciência com filosofia cultural política e literatura. Em Marx, a trans-subjetividade faz interseção com a subjetividade, o romantismo faz interseção com o iluminismo na trans-subjetividade grotesca das massas, a razão faz pendant com o inconsciente nietzschiano antes de Nietzsche. Marx é o primeiro fundador da discursividade que opera a realidade dos fatos com o significante técnico.” (SILVEIRA, 2016)Sobre tal, explicitar-se-á ao longo do texto.
Marx inaugura um conceito na Filosofia, o de cultura política intelectual, sendo presente no uso das ideias em vez dos conceitos, transdisciplinar, e conseguindo transformar a realidade.
Para além, pode-se perceber que a combinação das três determinações básicas usadas por Marx (economia, luta de classes e forma política) se relaciona com uma conjuntura política específica, e mais detidamente, articula-se em cultura política. Esta, alude ao conceito de trans-subjetivo, a “subjetividade das massas sem sujeito”. (SILVEIRA, 2016).
Quando Marx propõe o conceito de história mitológica, faltam os de “subjetividade” e “trans-subjetividade”. O primeiro tem ligação com Napoleão e sua figura mítica, sua construção como mito que provoca choque na história mundial até os dias atuais; o segundo, com as massas. Dessa forma, a construção da história mitológica para o autor se dá pelo mito de Napoleão.
Nesse ponto, é importante esclarecer sobre a palavra “mito”. Em “Razão Digitalis Versus Ditadura Fascista Eletrônica Mundial”, Silveira o coloca como possuidor de um caráter mais do que subjetivo, trans-subjetivo na ordem da cultura política, entrelaçada pela natureza e pela cultura. Ele dá voz ao real, ajuda a compreender aquilo que estivera apenas no campo simbólico, mesmo que não tenha valor explicativo, porém articula a trans-subjetividade ao real. Em paralelo ao mito de Napoleão, tem-se, no Brasil, o mito Lula. O bolivariano de esquerda tem sua fonte de energia mítica no narcisismo, assim como o bolivariano de direita, FHC. Os dois fazem parte da tela eletrônica, a qual interpreta o papel do espelho d’água no mito de Narciso, e que consome os envolvidos. A questão é que esses mais do que dependem um do outro para sobreviver, espalhar e perpetuar seus bolivarianismos, são cabeças da mesma Hydra de Lerna, associação presente em “Fascimos”, sendo uma “árdua” tarefa derrubar um sem o mesmo acontecer ao outro. Fazem parte de uma mesma cultura política eletrônica bolivariana, dominam o Brasil e tinham articulação para se revezarem no poder presidencial republicano, até um deles quebrar o acordo. PT e PSDB são partidos que outrora tomaram o mesmo lado no impeachment de um presidente, assumindo uma coalizão de oposição, travaram disputas eleitorais grandiosas até uma cabeça da Hydra desejar ser mais forte, ter mais importância na cultura política do que a outra.
Seguindo quanto a frase de Marx aprofundada de Hegel, a ascensão de Napoleão se configura como processo trans-subjetivo da burguesia e do proletariado. O momento de Luís é uma comédia histórica não poética, mas vulgar, da cultura política bonapartista, sendo o contrário do que se considera sério, racional, lógico.
Marx fala em como formar tal cultura intelectual, ressaltando a importância do jornalismo, do romance e da estética, de forma geral. O impasse dessa formação é o jornalismo “witz” que temos no Brasil, coligados com grandes partidos políticos, interessados em lançar fatos sem apurá-los, sem qualquer profundidade, em defender o sistema exposto, em ludibriar as massas ao dar importância mais do que suficiente a eventos pontuais, como o Carnaval ou o futebol, ao passo que o país vive uma crise econômica, política e institucional. Os jogos jornalísticos conseguem dispersar a massa, criam hiper-realidades e minimizam causas de relevância, modificam a balança e invertem conjunturas, sempre a seu favor e de quem a apoia.
Em Marx, a crise econômica torna-se uma determinação da crise política quando a percepção da burguesia estabelece uma relação fatal entre crise política e crise econômica” (SILVEIRA, 2016). Em Microfísica do Poder, Foucault trata o poder como algo que circula, se exerce em rede, não está detido em uma classe, mas são os indivíduos centros de sua transmissão. O autor não deduz um fenômeno geral da dominação da classe burguesa, mas se propõe a analisar, histórica e ascendentemente como se deram os mecanismos de controle. Ele conclui que a burguesia nunca fora contra determinados comportamentos, apenas a partir de determinado ponto percebeu que suas proibições e o desenvolvimento de mecanismos para deslegitimá-los pudesse lhe trazer lucro econômico e uma utilidade política, transformando tais mecanismos em globais e aceitáveis.
Se se for pensar o caso do Rio de Janeiro, este é o elo mais fraco do bolivarianismo brasileiro, podendo se romper a qualquer momento, visto que a máquina de guerra oligárquica peemedebista, coordenada por Cabral, além de ter vida indissociável do Grupo Globo, não tem amigos, mas interesses, típico da classe burguesa dominante, jogadora do time que oferecer melhores condições de jogo.
Em 18 Brumário, Marx se propõe a explicitar o processo que colocou Luís Bonaparte no poder, isto é, como ele foi de sobrinho de Napoleão a Imperador, de que forma a luta de classes (campo de poder monárquico/burguês, ditatorial democrático) influenciou causalmente nessa transformação, tornando um personagem medíocre e grotesco em herói. Deve-se ter em conta que esse processo só fora possível uma vez que as massas estavam ligadas a cultura política ditatorial napoleônica. (SILVEIRA, 2016).
Em “Marx - Autodissolução da Democracia de 1848”, Silveira analisa que Marx vê que no exame da conjuração dos mortos da história, os heróis instalaram a moderna sociedade burguesa, em trajes romanos e frases romanas. Dessa forma, Napoleão se enquadra como aquele que desencadeou a revolução burguesa, a qual se liga com a tragédia histórica e se usa da tradição (romana) como linguagem de tal tragédia. Luís trouxe consigo o mito de seu tio e também a tradição romana.
Uma análise sobre as massas dos dois momentos pode ser bem elucidativa. Em “Teoria da Trans-Subjetivação Ditatorial das Massas”, Silveira vê que nquanto os camponeses do período napoleônico tinham interesses consoantes com a burguesia, no segundo momento, a massa camponesa tem um projeto que mais a assemelha ao proletariado urbano. Se aquelas (napoleônicas sujeito zero) eram revolucionárias, essas (bonapartistas) não desenham o mesmo quadro. No segundo momento, o sobrinho consegue o apoio de todas as classes, tornando-se líder carismático do processo de trans-subjetivação das massas, ora napoleônicas, ora bonapartistas. Deve-se ter em conta que, agora como farsa, o mito Bonaparte continua vivo.
Sendo Luís esse líder, tem-se uma comédia histórica vulgar, com seu governo parodiando 1789, visto que seu tio fora o líder da tragédia histórica. Ou seja, no período napoleônico adveio-se uma cultura política poética, fundamentada na tradição romana, e do período bonapartista, uma cultura política burguesa prosaica, ou mais ainda, uma cultura política como trans-subjetivação ditatorial heróica.
A eleição de Luís Bonaparte, personagem medíocre, só se tornou possível pelo fato das massas carregarem uma trans-subjetividade ditatorial fomentadora de um herói ditador, e, é claro, também pela luta de classes. As massas camponesas e lumpen-proletárias trans-subjetivas possuem grande culpa no processo de construção da cultura política mitológica ocidental moderna, tanto por Luís, quanto por Napoleão.
Por conseguinte, as massas burguesas trans-subjetivas ditatoriais acabam “legitimando” o golpe de Estado, o que acaba por se virar contra ela mesma com a redução de sua dominação frente ao novo Imperador. Portanto, a luta entre burguesia e proletariado, de forma genérica, fabrica a necessidade de um governo que restaure a fé das duas classes no que defendem. Surge, pois, o sobrinho de uma figura mítica, absorto na cultura política intelectual francesa, como governante.
Como um de seus feitos, Luís Bonaparte forma a chamada Sociedade de 10 de Dezembro, composta por toda a massa indefinida e desintegrada, como “roués decadentes, de fortuna duvidosa e de origem duvidosa, arruinados e aventureiros rebentos da burguesia, vagabundos, soldados desligados do exército, forçados foragidos das galés, chantagistas cujo objeto é o refém”. (MARX, 1974)
Aludindo a esse aspecto, tem-se o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e a máquina de guerra de seu partido, PMDB, assim como Luís fora máquina de guerra política grotesca. Paes transformou a Guarda Municipal, criada por César Maia nos moldes da Sociedade de 10 de dezembro, em milícia fascista (SILVEIRA, 2016). Esta serve aos interesses, mais uma vez, de uma classe, agindo de forma arbitrária pela cidade, fazendo distinção na abordagem em relação a quem, quando e onde. De fato, a Guarda age de forma truculenta nas ruas do Rio, durante todo o ano, e pouquíssima é a atenção dada a tais fatos. Novamente, a inerente ligação entre o partido citado e o Grupo Globo, principal regulador, é nítida e traz a reflexão de que este narra fatos não reais, ilusórios, fantasmagóricos, deixando todos reféns da tele eletrônica, do capital corporativo eletrônico mundial e de uma ditadura fascista peemedebista eletrônica global.
Se pensarmos em como Marx aborda Luís, personagem infame de um romance grotesco da cultura política intelectual das massas, que sai como herói de massas trans-subjetivas ditatoriais, percebemos como o autor relembra em detalhes a saga de Luís, indiferentemente de seu caráter ser positivo ou negativo, uma vez que o eterniza na cultura política intelectual.
Ademais, pode-se ver Marx como máquina de guerra de pensamento contra-capitalismo (SILVEIRA, 2016), fazendo mais do que relembrar a época, mas elucidar sobre a farsa vulgar e cômica que as massas trans-subjetivas francesas transformaram em mito, funcionando como um contra poder na cultura política oficial francesa. Dito isso, Marx mais do que eternizava Luís em sua obra, mas assume o protagonista do herói-ditador ao se amalgamar a cultura política intelectual francesa e mundial.
Frente as novas formas de organização de capital e das tecnologias, os textos escritos e impressos perdem muito espaço para a produção digital trans-textual, devido a sua voracidade de circular mais em menos tempo, atingindo expectativas lucrativas. Da mesma forma, a dupla que se “confundira”, autor/herói-ditador, parecem se iludir na realidade da cultura política mundial, transformando-se em máquina de guerra literária (capitalista ou contra capitalista) e ditador eletrônico populista, de carisma prosaico, respectivamente. (SILVEIRA, 2016).
Uma vez que se falou sobre as novas organizações de capital e de tecnologia, é justo colocar como elas se influenciam. O domínio do capital corporativo internacional esteve nas mãos dos Estados Unidos até a segunda metade do século XX, quando pelo processo de desterritorialização da nação, o capital corporativo ultrapassou fronteiras e se tornou digital mundial. Na época digital, os Estados Unidos deixam de ser a nação que dominava o capital, e são apenas uma como os outras, mas que possui um modelo orgânico de relação do eletrônico com a universidade, servindo essa aos interesses midiáticos. Esse modelo é reproduzido em outras localidades, inclusive no Brasil, onde a Globo News, principalmente, roteiriza falas de seus convidados acadêmicos para iludir as massas com falsos discursos de autoridade.
Em consonância a essa mudança, as relações sócias de produção são agora relações sociais trans-subjetivas.
É importante lembrar ainda que o “digital” surge como fruto da associação entre o complexo industrial e o modelo de comunidade de informação, sendo a cultura política digital, mundial, trans-subjetiva, enquanto a cultura política das classes sociais se liga a cultura eletrônica, internacional.
Pois bem, qual a aplicabilidade dessas questões em nosso cotidiano de país?
Em “Razão Digitalis Versus ditadura Fascista Eletrônica Mundial”, tem-se a seguinte passagem: “o estado do Rio de Janeiro é a ditadura bonapartista peemedebista de uma lumpen-oligarquia. No ‘O 18 de Brumário’, o bonapartismo é definido por um aspecto essencial. Trata-se da inscrição na política francesa do lumpen-proletariado bonapartista condensado na instituição política criminosa ‘Sociedade 10 de Dezembro’”.
O Brasil é um país historicamente oligárquico. Vargas, apesar de nascer oligarca, é um Príncipe moderno, e seus sucessores Juscelino, FHC e Lula também o são. O Rio de Janeiro tem em seu “bloco no poder”, garantidor de unidade do país, uma oligarquia membra de um partido político, o PMDB, o qual além de controlar a política, é a máquina de guerra onipresente no estado e conta com a ajuda midiática, majoritariamente do Grupo globo para manter sua hegemonia. O bloco controla as massas pela cultura política, principalmente a informacional, sendo assim, a manipulação dessas tem um grande regulador. A importância de ludibriar as massas está na sua potente trans-subjetividade. O bloco pretende quebrar a relação do Estado populista (criação varguista) com essas massas.
Quando se diz que o estado do Rio de Janeiro é uma ditadura bonapartista remete-se muito aos mecanismos de controle local, como a Sociedade de 10 de Dezembro e a Guarda Municipal, fascistas. Com a ação do Grupo Globo e seu domínio eletrônico, pode-se dizer que o Rio de Janeiro é uma ditadura fascista peemedebista eletrônica global (SILVEIRA, 2016).
Cabe ainda colocar sobre a abrangência nacional desse partido e de tal mídia. Juntamente destes, PT e PSDB, encabeçados por Lula e FHC, cabeças de uma mesma Hydra, bolivarianos, alternadores da presidência, formam o grupo que dita o Brasil. Enquanto PMDB se reinventa a cada conjuntura para continuar por cima, aliando-se aos mais diversos partidos, o Grupo Globo constitui o grupo de poder de uma ditadura eletrônica, PT e PSDB coordenam uma ilusória, fantasmagórica democracia. Fantasmagórica no sentido de ilusório, sendo assim o Estado, como em “A Ideologia Alemã”, um fantasma. Este, na modernidade, pode ser visto no próprio projeto de nação. Tal ideia, seus ideais, fundamentalmente o de cultura, é um fantasma poderoso.
Em “Fascismos”, Silveira propõe a indagação sobre ser possível caminhar do bloco político bolivariano PT/PMDB/PSDB para uma ditadura fascista bolivariana, a qual graças ao Grupo globo, também seria eletrônica.
Pode-se concluir que o grande enfoque são as massas. Essas se despertam ocasionalmente, tendo sua fé em algo positivo renovada, elegendo presidentes ou manifestando-se nas ruas por sua queda. É esse poder que assusta a burguesia, a oligarquia dependente do canal midiático para conter a trans-subjetividade das massas, ou melhor, torná-las apoiadoras de seus interesses.
As massas que suportaram Napoleão na França, transformando-o em mito trágico, construindo a história mitológica, elegeram Luís, 51 anos o governo de seu tio acreditando que o velho mito poderia reviver em seu sobrinho, continuando com o mito Bonaparte, mas já como uma farsa, cômica e vulgar, defensor da ordem burguesa.
No Brasil, massas legitimaram o governo ditatorial de Vargas, inaugurando uma era de populismo. A ditadura militar veio por fim a revolução populista, impondo uma contrarrevolução conservadora (sempre). Na década de 1980, a crise da economia de guerra civil fez com que a revolução bolivariana retirasse o comando do país da política e da economia, passando-o a economia de mercado. Essa, associado a corrupção eletrônica, são fundamentais para a economia de guerra. O bolivarianismo brasileiro confronta com o populismo.
Qual papel podem ter as massas na reconstrução da República brasileira, na passagem da sua cultura para cultura política, no enfrentamento aos reguladores midiáticos, de que forma podem deixar de ser uma unidade cega e exercerem seu poder trans-subjetivo, no momento muito fraco comparado ao global digital? Deve-se ter em conta que as massas simulam a paz, visto que não podem ser como as máquinas de guerra aqui descritas, violentas e fascistas.
De fato, a contrarrevolução bolivariana está em marcha, observável se atentarmos para o que acontece em nossas instituições e em nosso país, desmantelado por interesses dominantes muito contrários a ideais republicanos e democratas.



Referências Bibliográficas:
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. “Soberania e Disciplina”. Graal, 2009.
MARX. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Pensadores. SP: Abril Cultural, 1974.
SILVEIRA, José Paulo Bandeira. Marx - Autodissolução da Democracia de 1848.
SILVEIRA, José Paulo Bandeira. Fascismos. Disponível em: http://politicajosepaulobandeira.blogspot.com.br/. 2016.
SILVEIRA, José Paulo Bandeira. Razão Digitalis Versus Ditadura Fascista Eletrônica Mundial. Disponível em: http://politicajosepaulobandeira.blogspot.com.br/. 2016.
SILVEIRA, José Paulo Bandeira. Teoria da Trans-subjetivação Ditatorial das Massas. Disponível em: http://politicajosepaulobandeira.blogspot.com.br/. 2016.