terça-feira, 17 de maio de 2016

A Nova Direita em debate

por Almir Pereira

O jornal Folha de São Paulo (FSP) entrou no debate acerca da Nova Direita no Brasil. Em matéria publicada na edição impressa de ontem, 16 de maio, o maior jornal do país tentou analisar o fenômeno com o auxílio de especialistas nacionais e estrangeiros. Leia essa matéria aqui e confira como ela infelizmente não caracteriza o que seria a nova direita. O que é apontado como nova direita, na verdade é a nova geração de seguidores da velha direita. A matéria passa ao largo da reformulação significante que fundamenta o surgimento de uma direita “nova”, diferente daquela velha conhecida dos dicionários de ciência política. Na verdade a matéria em tela está mais para uma depreciação do debate acerca do tema. Algo como uma rápida passagem pelo assunto para afirmar que não se trata de um tema consistente e, por isso, sem relevância suficiente para que se continue a debatê-lo.

Coincidentemente, embora Freud tenha deixado mais do que claro o quanto as coincidências são suspeitas, nos dias que antecederam a publicação da Folha, a Nova Gazeta Renana Digital publicou artigos discorrendo sobre o mesmo tema. Embora seja um fato tabu, pois nunca é explicitado, uma parcela relevante dos intelectuais interessados ou especializados em política acompanha com atenção a obra do cientista político José Paulo Bandeira, autor dos dois artigos publicados na Nova Gazeta. Por isso, não é improvável que a Folha quisesse, com o texto supracitado, se contrapor à argumentação do professor Bandeira, criador da física geopolítica lacaniana.

Para Bandeira o núcleo do fenômeno Nova Direita é a formação de um centro tático que deslocou o “Centrão” e o BBB (boi, bala e bíblia) do papel de formuladores da narrativa da direita brasileira. A Nova Direita constitui-se em torno da tarefa de elaborar uma “semblância democrática” para o governo Temer através de “ações intelectuais que vão persuadir as massas intelectuais de que o governo Temer não é uma máquina de guerra ditatorial.” Para a Folha de São Paulo, a presença de FHC (PSDB) no governo Temer é suficiente para caracterizar tal governo como progressista e de centro-esquerda? Ao contrário, a Nova Direita é, para J.P.Bandeira, um “centro tático cultural político”. Esse “bloco transideológico” (a Folha não sabe o que é transideológico, ela continua ancilar da era ideológica) já está operando pela ação do Grupo Globo, de renomados acadêmicos (USP, principalmente) que comentam a política e a economia na tela eletrônica (vários deles egressos da esquerda) e da imprensa de papel. O patrono intelectual da Nova Direita é ninguém menos que Fernando Henrique Cardoso.

Curiosamente, a matéria da FSP supracitada aponta como principal dificuldade para o renascimento da direita no Brasil a falta de quadros intelectuais. Como a matéria da Folha pensa em termos da velha direita seu raciocínio é internamente correto, embora ela se esqueça do papel intelectual nada desprezível do trio Olavo de Carvalho, Luís Felipe Pondé, Marco Antônio Villa, na articulação intelectual da velha direita. O fato é que o texto publicado pela FSP demonstra que o jornal está capturado pela semblância centrista da Nova Direita. Enquanto a Folha continuar assim, qualquer menção ao tema por ela significará uma tática de dissimulação e manipulação trans-subjetiva das massas leitoras daquele jornal paulista.

Leia abaixo os artigos de José Paulo Bandeira:

A NOVA DIREITA LATINO-AMERICANA

Na passagem do governo Dilma/Lula/PT para o governo Temer, um fenômeno tomou conta do espaço cultural político. Trata-se da NOVA DIREITA. A velha direita era o “Centrão” e o B.B.B no Congresso. Seus intelectuais são Olavo de Carvalho, Luís Felipe Ponde, Marco Antônio Villa e Simon Schwartzman. A Nova Direita deu um centro tático para a direita em geral, reorganizando-a. Nesse centro tático encontra-se o PMDB/PSDB/DEM/PPS (formado pelo pessoal do velho PCB).

A reorganização/mudança no campo intelectual é notável. Ela inclui antigos intelectuais da esquerda petista (revolução cultural política molecular) como José Álvaro Moisés, peemedebista como Adriana Rattes, do ex-PCB como Stepan Nercessiam, e uma certa esquerda liberal democrática como Bolívar Lamounier. Não se pode esquecer nessa passagem molécula intelectual da esquerda para a Nova Direita Fernando Henrique Cardoso e Boris Fausto. A nova geração da velha ciência política como Carlos Mello e os jovens intelectuais da FGV são parte desse centro tático cultural político Nova Direita. Memorável é a chefe da velha escola de ciência política da USP reaparecer a Fênix como chefe da escola de ciência política da Nova Direita (Lourdes Sola). Ex-althusseriano radical, José Augusto Guilhon de Albuquerque provavelmente fará a epistemologia política militar do campo de poder Nova Direita. Entre os economistas, o leitor deve prestar atenção em Claudio Frishtak! Jose Eduardo Campos de Oliveira Faria é o estrategista que articula a interseção entre a comunidade jurídica, a USP, o jornal o Estado de São Paulo, a GloboNews e a Okhrana.

Na sociedade do espetáculo eletrônico, O Grupo Globo é, destacadamente, o aparelho transideológico eletrônico da Nova Direita. Programas como GloboNews Painel, Fatos e Versões, Alexandre Garcia, Miriam Leitão, Entre Aspas, Roberto D’Ávila são o instrumento da formação da opinião pública eletrônica da Nova Direita para as massas intelectuais sujeito zero esquerda. O programa Mário Sérgio Conti bolivariano continuará existindo para que o Grupo Globo se apresente como uma televisão que não serve, agora, à Nova Direita, como serviu até pouco tempo ao poder bolivariano.

Os jornais de papel vão fazer de conta que não fazem parte do bloco transideológico Nova Direita. Eles precisam também dos leitores que não se identificam com este BLOCÃO. Podem fazer uma oposição simuladamente crítica, como será o caso da revista Veja. Tal fenômeno é análogo ao bloco histórico gramsciano? Neste a hegemonia é soberana através de uma narrativa democrática que unifique a classe política e faça tal classe governar as massas disponíveis cultural politicamente para à Nova Direita.

O bloco histórico é hegemonia e dominação. O que eu vejo? Uma hegemonia que fosse cinicamente semblância e uma dominação (narrativa-força) obscenamente estratégica girando em torno da mentira deslavada, da manipulação, do manietar, da sugestão psicótica, da simulação e da dissimulação para fazer a gestão das massas cidadãs, retirando seus direitos constitucionais.

Cabe ao bloco transideológico a práticas das ações intelectuais que vão persuadir as massas intelectuais de que o governo Temer não é uma máquina de guerra ditatorial. Por isso, a comunidade jurídica terá um lugar estratégico na articulação do bloco de poder Nova Direita.

O romancista Mário Vargas Llosa está sendo catapultado à posição de intelectual hegemônico da Nova Direita latino-americana. A ele cabe o papel de dar o ponta pé inicial na fabricação de uma narrativa jornalística que associe a Nova Direita com uma nova era democrática latino-americana em um contraponto à era ditatorial do populismo de esquerda, em autodissolução. Llosa arrasta o jornal El Pais para o bloco intelectual Nova Direita latino-americana.

À física geopolítica lacaniana cabe acompanhar a montagem da Nova Direita latino-americana como linha de força cultural política que cooptará a comunidade artística com a Secretária da Cultura com status de ministério, que será dirigida por um membro de tal comunidade. Percebam, como o bolivarianismo, a Nova Direita é latino-americana, portanto, antinacional.

Por enquanto isso basta para o leitor ver o fenômeno político Nova direita também como um fenômeno cultural político.


PROGRAMA GLOBONEWS PAINEL (15/05/2016)

No programa GloboNews Painel, Bolívar Lamounier divagou, com uma tediosa ira (Waldir Maranhão disse que “na política até a ira é combinada”) sobre a necessidade de destruição do Estado Nacional como um princípio liberal da filosofia política econômica brasileira moderna. Lourdes Sola e José Guilherme Guilhon de Albuquerque (professores da USP) batem palmas, mas acham que a destruição deve ser só a do Estado Nacional federal. Eles não querem a destruição do Estado Nacional no estado de São Paulo, pois, isso desmontaria a USP, e a classe política paulista.

O modelo "teórico" de Bolívar nos remete para o século XIX. Trata-se da velha dialética São Paulo versus Rio (capital do Império). O Rio representava o Estado imperial nacional patrimonialista e São Paulo a sociedade da fazenda oligárquica/liberal do café! Caro professor, o liberalismo brasileiro autêntico paulista é cultural político oligárquico!

A propósito, a leitura de Carl Schmitt de Bolívar é risível!

A concepção provinciana bandeirante liberal de Bolívar será a semblância democrática de um governo que tem como lema “Ordem e Progresso”. Este axioma cultural político da bandeira republicana brasileira significa a definição de um Estado republicano-força, sem ideias, (Bolívar tem uma visão vulgar universitária do conceito de ideia) que destruiu Canudos (Sertão cultural político do Nordeste) e o Contestado (Sertão cultural político do Sul). Além disso tal republica é aquela do populismo ditatorial aristocrático de Getúlio, do Estado Militar, do autocrático governo Sarney, da “ditadura romana” de Fernando Collor e da ditadura bolivariana liberal de FHC, e da era petista neopopulista!

É curioso os três participantes supracitados dizerem que o populismo de Getúlio é distinto do populismo de Lula/PT. Mas eles se negam a dar um nome para o “populismo petista”: bolivarianismo. A ira santa tediosa de Bolívar em relação ao PT é tamanha que ele se recusa a nomear a era petista como uma era da dominação da esquerda latino-americana no nosso continente, em alguns países, como Argentina, Venezuela, Uruguai e Bolívia. Assim, a narrativa cesarista da Nova Direita com semblância liberal democrática vai se construindo como um narrativa-força provinciana que bebe em ideias do cemitério da cultura intelectual liberal brasileira. São ideias ficcionais, ideias-espectrais sem força de realidade, sem força de lei! Tenha paciência! Vamos trabalhar mais!
É preciso um campo de pensamento para a produção de ideias. O único campo de pensamento atual na América-Latina é o da física geopolítica lacaniana!

As reportagens sobre o PCC ser uma força latino-americana no jornal paulista “O Estado de São Paulo” foram feitas pela Okhrana latino-americana. Eles se acham espertos? Sim! As reportagens começam a pavimentar a estrada trans-subjetiva (“ideia” original de Dilma Rousseff) nas massas intelectuais do Estado de Defesa (artigo 136) e do Estado de Sítio (artigo 137). Trata-se da instalação da ditadura fascista eletrônica com semblância liberal democrática constitucional. Bolívar Lamounier sabe disso e José Guilhon de Albuquerque fará a narrativa da epistemologia política militar dos artigos 137 e 137 para o Grupo Globo e, portanto, para o bloco de poder Nova Direita Latino-americana. Albuquerque tem uma sólida formação em filosofia política econômica althusseriana no assunto governo-máquina de guerra psicótica. Ele também tem formação lacaniana!

A física geopolítica lacaniana é a contranarrativa (em estado trans-subjetivo hegemonia) da narrativa-força (em estado ditadura) Nova Direita!

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