sexta-feira, 25 de março de 2016

Lumpencultura, bolivarianismo e golpe

por Almir Pereira



Por que não tomar parte na luta de massas governistas e anti-governistas que ocupa as ruas a favor e contra o impeachment de Dilma Roussef? O impeachment é um golpe de Estado por falta de base jurídica como quer Dilma e seus aliados? O impeachment é o retorno do império da lei como querem os partidários do impedimento da presidente?

As massas sujeito zero burguês sabem que o segundo passo do impeachment é a implantação do Plano Temer, que vai atacar frontalmente os direitos sociais e o que ainda resta dos serviços públicos do país. Por isso tais massas se agarram à defesa da presidente como seu último baluarte de resistência ao plano burguês de Temer.


Acontece que ao fazer isso as massas sujeito zero burguês apostam em uma posição política regressiva, já que a contrarrevolução bolivariana de Dilma está acelerando a catástrofe econômica e política do Brasil. Dilma é parte da implosão econômica a que o bolivarianismo (Era FHC + Era Lulista) levou o país e sua reação à tal implosão é de uma indefinição extrema, inclusive com traços de reação anti-social. O desencaixe Brasil do capitalismo corporativo digital mundial em virtude da estratégia bolivariana de manter-nos sob o domínio do capitalismo de engenho lançou a nação no abismo da desindustrialização e da submissão ao capitalismo de commodities (agrícolas e minerais). A crise também é uma crise da hegemonia do capitalismo de commodities no bloco-no-poder.


Em uma demonstração de total falta de rumo e de inconsequência, Dilma acabou de sancionar a lei Mateus (lei Aloísio Nunes Ferreira – PSDB), a lei anti-terror, e garantiu um dispositivo totalitário funesto para que Temer aplique, assim que assuma a presidência, seu plano burguês contra as massas, do funcionalismo público e defensoras dos direitos sociais.


Outro traço míope das massas sujeito zero burguês ao apoiarem Dilma é o de se deixar subssumir à lumpencultura que é dominante no atual governo. JP Bandeira demonstrou em texto recente como a lumpencultura tem um papel preponderante na desterritorialização do Estado nacional. Subssumidas a tal cultura política as massas sujeito zero burguês alienam a defesa dos direitos sociais à subclasse política lúmpen, que tem como objetivo ontológico o uso privatista dos recursos públicos.


A garantia dos direitos sociais e do Estado brasileiro é indivisível de uma recusa frontal da lumpencultura da subclasse política. As massas sujeito Ø burguês estão inscrevendo-se no imaginário nacional como defensoras da fração lumpen de esquerda, da subclasse política brasileira.


Num provável governo Temer o combate a tais massas irá usar essa imagem para atacá-las como massas coniventes com a corrupção. No entanto, tais massas já se alienam ao imaginário bolivariano há décadas e seu destino já parece estar selado, assim como o destino do governo Dilma: ser suplantada por um golpe de Estado.


O tema do golpe de Estado colocou em campos opostos alguns ministros do STF e a presidente Dilma Roussef na semana que passou. Para Dilma não há base jurídica para seu impeachment, por isso o trâmite deste no Congresso seria um golpe de Estado em gestação. Para os ministros Dias Toffoli e Cármen Lúcia, do STF, se o Congresso aceitar a proposição de impeachment, que lá tramita atualmente, isso não é golpe, mas apenas um procedimento constitucional.


Do ponto de vista jurídico os ministros do STF estão corretos, excluindo-se o adendo que Eduardo Cunha fez à petição inicial baseada nas “pedaladas fiscais”. Cunha anexou ao pedido as denúncias feitas por Delcídio do Amaral ao Ministério Público Federal. Esta ação de Cunha foi uma flagrante ilegalidade golpista, que a Comissão Especial do Impeachment já corrigiu descartando tal anexo.


A questão do golpe de Estado não é jurídica como afirma Dilma. Ela é política. Conversando com um amigo acerca disso ele declarou: “se o atual processo for golpe, como quer a Dilma, então o impedimento de Collor em 1992 também foi golpe”, juridicamente meu amigo está correto, mas politicamente é a Dilma que está certa, embora ela não afirme que é um golpe de Estado apenas do ponto de vista político.


Em 1992, Itamar Franco desferiu um golpe de Estado em Collor e nas massas democráticas que se opunham ao déspota. Tomou o poder um político pusilânime que se manteve calado diante do despotismo collorido até vislumbrar o momento favorável à tomada do poder. A substituição do déspota pelo pacto oligárquico que gestaria o bolivarianismo de FHC+Lula não era o que as massas democráticas de 92 almejavam.


Já é quase um fato que o PMDB e congêneres desembarcaram da liderança que Dilma Roussef/ PT e Lula exercem no modelo político lúmpen? Por que isso está acontecendo? Porque não acreditam mais na capacidade de liderança destes para reorganizar a política e a economia e acham mais viável um novo pacto lúmpen-burguês com o PSDB. Porque o PMDB e congêneres chegaram a esta conclusão? Porque eles entendem que o programa de saída da crise está consubstanciado nos planos Temer I e II (capitalismo de engenho sem direitos sociais e sem o Estado brasileiro) e não lhes parece que seja viável fazer o PT aceitar isso, por mais que o partido de Lula já tenha feito várias concessões inimagináveis ao passado petista. Além disso, os conspiradores do PMDB-PSDB esperam que a derrubada do governo Dilma sirva de bode expiatório para salvar da Operação Lava-jato a fração lumpen-oligárquica (PSDB/ PMDB etc) que subirá ao poder com o impeachment.


Em 2016 o PMDB está consolidando “sua identidade de o maior partido conspirador da era da Constituição de 1988”. No texto deste link pode-se entender em detalhe como a não regulamentação, até hoje, dos crimes de responsabilidade do presidente da república, exigida pelo Parágrafo Único do artigo 85 da Constituição, de inspiração peemedebista, garante uma situação constitucional ao sabor da formação do algorítimo/consenso ditatorial da classe política contra o presidente da República”.

A conspiração de Michel Temer para aceder ao cargo de presidente da república não o transforma num criminoso? No emaranhado de crimes eleitorais que envolve a Presidente da República, seu vice e uma fração expressiva do Congresso Nacional só uma eleição geral em nível federal pode restabelecer alguma legitimidade nos termos da Constituição de 1988, para a qual o povo é o soberano. A dissolução da representatividade a que a lumpencultura relegou os poderes executivo e legislativo federais só pode ser superada por uma eleição geral limpa e confiável. Qualquer outra alternativa representa um golpe de Estado contra a soberania popular e o aprofundamento de conflitos que só podem nos levar em direção ao pior.

sexta-feira, 18 de março de 2016

De Karina Santos, "Ditadura Brasileira versus massas democráticas"

O texto a seguir foi muito bem escrito por Karina Santos. Tem uma concatenação digna de nota, o que, além do talento literário da Karina, parece também espelhar a clareza de pensamento que a física historial inspira em seus leitores. Karina soube captar as linhas de força principais que a leitura da política pela física clarificam: ditadura brasileira versus massas democráticas. Mas o principal no trabalho dela talvez seja a demonstração de que a física possibilita a saída do leitor dos anacronismos intelectuais que o universo acadêmico tanto patrocina. Karina tem a sensibilidade necessária para captar o real da política pelas lentes da física. Enfim, trata-se de uma leitora sintonizada com o século XXI. A parte final do texto mostra que ela reconhece o sentido principal da física historial: explicar a realidade concreta e não ser apenas mais uma forma de discurso universitário.

Ditadura Brasileira versus massas democráticas

Autora: Karina Porciuncula de Almeida Rodrigues Santos


Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx enfoca o período histórico no qual Luís Bonaparte chega à presidência na França, em 1848, até o golpe de Estado, em 1851. Em complemento ao que dizia Hegel sobre a repetição de acontecimentos na história, o livro alude a uma clássica passagem de Marx, sobre fatos e personagens acontecerem duas vezes na história da Humanidade, a primeira como tragédia e a segunda como farsa. Isto é, trata-se de dois personagens com igual sobrenome assumindo o “mesmo” cargo na França. Interessante são os contextos diferenciados, as classes modificadas, mas é sobre o sentimento dos indivíduos ao optarem por uma possível continuidade de governo, que se constrói a farsa de Luís.
Antes de se analisar a repetição histórica em França, deve-se elucidar sobre o porquê da obra de Marx estar ainda tão viva, seja na Academia ou nas instituições políticas, para aqueles que concordam e para os que discordam de sua ideologia, para liberais ou comunistas, pessoas com muita ou pouca experiência. As teses do autor não são presas a só uma disciplina, podendo ser vistas e revistas por amantes de sua Filosofia da Natureza, pelos agarrados a seu modo de análise, ao mesmo tempo, teórico e prático, mas certamente todos podem desfrutar de seu brilhante ecletismo. Dessa forma, os escritos de Marx são mais do que úteis, primordiais para se interpretar os dias atuais, tanto na observação de um modelo analítico, quanto na intrínseca comparação com o hoje, uma vez que, a história do mundo se repete, “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. (MARX, 1974).
Sobre o 18 de Brumário, “não é um texto científico ou literário”, sendo para Lenin, “o modelo do método análise concreta de uma situação concreta. Lenin deixou de explorar a verdadeira epistemologia política da obra que combinava interpretação com explicação, ciência com filosofia cultural política e literatura. Em Marx, a trans-subjetividade faz interseção com a subjetividade, o romantismo faz interseção com o iluminismo na trans-subjetividade grotesca das massas, a razão faz pendant com o inconsciente nietzschiano antes de Nietzsche. Marx é o primeiro fundador da discursividade que opera a realidade dos fatos com o significante técnico.” (SILVEIRA, 2016)Sobre tal, explicitar-se-á ao longo do texto.
Marx inaugura um conceito na Filosofia, o de cultura política intelectual, sendo presente no uso das ideias em vez dos conceitos, transdisciplinar, e conseguindo transformar a realidade.
Para além, pode-se perceber que a combinação das três determinações básicas usadas por Marx (economia, luta de classes e forma política) se relaciona com uma conjuntura política específica, e mais detidamente, articula-se em cultura política. Esta, alude ao conceito de trans-subjetivo, a “subjetividade das massas sem sujeito”. (SILVEIRA, 2016).
Quando Marx propõe o conceito de história mitológica, faltam os de “subjetividade” e “trans-subjetividade”. O primeiro tem ligação com Napoleão e sua figura mítica, sua construção como mito que provoca choque na história mundial até os dias atuais; o segundo, com as massas. Dessa forma, a construção da história mitológica para o autor se dá pelo mito de Napoleão.
Nesse ponto, é importante esclarecer sobre a palavra “mito”. Em “Razão Digitalis Versus Ditadura Fascista Eletrônica Mundial”, Silveira o coloca como possuidor de um caráter mais do que subjetivo, trans-subjetivo na ordem da cultura política, entrelaçada pela natureza e pela cultura. Ele dá voz ao real, ajuda a compreender aquilo que estivera apenas no campo simbólico, mesmo que não tenha valor explicativo, porém articula a trans-subjetividade ao real. Em paralelo ao mito de Napoleão, tem-se, no Brasil, o mito Lula. O bolivariano de esquerda tem sua fonte de energia mítica no narcisismo, assim como o bolivariano de direita, FHC. Os dois fazem parte da tela eletrônica, a qual interpreta o papel do espelho d’água no mito de Narciso, e que consome os envolvidos. A questão é que esses mais do que dependem um do outro para sobreviver, espalhar e perpetuar seus bolivarianismos, são cabeças da mesma Hydra de Lerna, associação presente em “Fascimos”, sendo uma “árdua” tarefa derrubar um sem o mesmo acontecer ao outro. Fazem parte de uma mesma cultura política eletrônica bolivariana, dominam o Brasil e tinham articulação para se revezarem no poder presidencial republicano, até um deles quebrar o acordo. PT e PSDB são partidos que outrora tomaram o mesmo lado no impeachment de um presidente, assumindo uma coalizão de oposição, travaram disputas eleitorais grandiosas até uma cabeça da Hydra desejar ser mais forte, ter mais importância na cultura política do que a outra.
Seguindo quanto a frase de Marx aprofundada de Hegel, a ascensão de Napoleão se configura como processo trans-subjetivo da burguesia e do proletariado. O momento de Luís é uma comédia histórica não poética, mas vulgar, da cultura política bonapartista, sendo o contrário do que se considera sério, racional, lógico.
Marx fala em como formar tal cultura intelectual, ressaltando a importância do jornalismo, do romance e da estética, de forma geral. O impasse dessa formação é o jornalismo “witz” que temos no Brasil, coligados com grandes partidos políticos, interessados em lançar fatos sem apurá-los, sem qualquer profundidade, em defender o sistema exposto, em ludibriar as massas ao dar importância mais do que suficiente a eventos pontuais, como o Carnaval ou o futebol, ao passo que o país vive uma crise econômica, política e institucional. Os jogos jornalísticos conseguem dispersar a massa, criam hiper-realidades e minimizam causas de relevância, modificam a balança e invertem conjunturas, sempre a seu favor e de quem a apoia.
Em Marx, a crise econômica torna-se uma determinação da crise política quando a percepção da burguesia estabelece uma relação fatal entre crise política e crise econômica” (SILVEIRA, 2016). Em Microfísica do Poder, Foucault trata o poder como algo que circula, se exerce em rede, não está detido em uma classe, mas são os indivíduos centros de sua transmissão. O autor não deduz um fenômeno geral da dominação da classe burguesa, mas se propõe a analisar, histórica e ascendentemente como se deram os mecanismos de controle. Ele conclui que a burguesia nunca fora contra determinados comportamentos, apenas a partir de determinado ponto percebeu que suas proibições e o desenvolvimento de mecanismos para deslegitimá-los pudesse lhe trazer lucro econômico e uma utilidade política, transformando tais mecanismos em globais e aceitáveis.
Se se for pensar o caso do Rio de Janeiro, este é o elo mais fraco do bolivarianismo brasileiro, podendo se romper a qualquer momento, visto que a máquina de guerra oligárquica peemedebista, coordenada por Cabral, além de ter vida indissociável do Grupo Globo, não tem amigos, mas interesses, típico da classe burguesa dominante, jogadora do time que oferecer melhores condições de jogo.
Em 18 Brumário, Marx se propõe a explicitar o processo que colocou Luís Bonaparte no poder, isto é, como ele foi de sobrinho de Napoleão a Imperador, de que forma a luta de classes (campo de poder monárquico/burguês, ditatorial democrático) influenciou causalmente nessa transformação, tornando um personagem medíocre e grotesco em herói. Deve-se ter em conta que esse processo só fora possível uma vez que as massas estavam ligadas a cultura política ditatorial napoleônica. (SILVEIRA, 2016).
Em “Marx - Autodissolução da Democracia de 1848”, Silveira analisa que Marx vê que no exame da conjuração dos mortos da história, os heróis instalaram a moderna sociedade burguesa, em trajes romanos e frases romanas. Dessa forma, Napoleão se enquadra como aquele que desencadeou a revolução burguesa, a qual se liga com a tragédia histórica e se usa da tradição (romana) como linguagem de tal tragédia. Luís trouxe consigo o mito de seu tio e também a tradição romana.
Uma análise sobre as massas dos dois momentos pode ser bem elucidativa. Em “Teoria da Trans-Subjetivação Ditatorial das Massas”, Silveira vê que nquanto os camponeses do período napoleônico tinham interesses consoantes com a burguesia, no segundo momento, a massa camponesa tem um projeto que mais a assemelha ao proletariado urbano. Se aquelas (napoleônicas sujeito zero) eram revolucionárias, essas (bonapartistas) não desenham o mesmo quadro. No segundo momento, o sobrinho consegue o apoio de todas as classes, tornando-se líder carismático do processo de trans-subjetivação das massas, ora napoleônicas, ora bonapartistas. Deve-se ter em conta que, agora como farsa, o mito Bonaparte continua vivo.
Sendo Luís esse líder, tem-se uma comédia histórica vulgar, com seu governo parodiando 1789, visto que seu tio fora o líder da tragédia histórica. Ou seja, no período napoleônico adveio-se uma cultura política poética, fundamentada na tradição romana, e do período bonapartista, uma cultura política burguesa prosaica, ou mais ainda, uma cultura política como trans-subjetivação ditatorial heróica.
A eleição de Luís Bonaparte, personagem medíocre, só se tornou possível pelo fato das massas carregarem uma trans-subjetividade ditatorial fomentadora de um herói ditador, e, é claro, também pela luta de classes. As massas camponesas e lumpen-proletárias trans-subjetivas possuem grande culpa no processo de construção da cultura política mitológica ocidental moderna, tanto por Luís, quanto por Napoleão.
Por conseguinte, as massas burguesas trans-subjetivas ditatoriais acabam “legitimando” o golpe de Estado, o que acaba por se virar contra ela mesma com a redução de sua dominação frente ao novo Imperador. Portanto, a luta entre burguesia e proletariado, de forma genérica, fabrica a necessidade de um governo que restaure a fé das duas classes no que defendem. Surge, pois, o sobrinho de uma figura mítica, absorto na cultura política intelectual francesa, como governante.
Como um de seus feitos, Luís Bonaparte forma a chamada Sociedade de 10 de Dezembro, composta por toda a massa indefinida e desintegrada, como “roués decadentes, de fortuna duvidosa e de origem duvidosa, arruinados e aventureiros rebentos da burguesia, vagabundos, soldados desligados do exército, forçados foragidos das galés, chantagistas cujo objeto é o refém”. (MARX, 1974)
Aludindo a esse aspecto, tem-se o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e a máquina de guerra de seu partido, PMDB, assim como Luís fora máquina de guerra política grotesca. Paes transformou a Guarda Municipal, criada por César Maia nos moldes da Sociedade de 10 de dezembro, em milícia fascista (SILVEIRA, 2016). Esta serve aos interesses, mais uma vez, de uma classe, agindo de forma arbitrária pela cidade, fazendo distinção na abordagem em relação a quem, quando e onde. De fato, a Guarda age de forma truculenta nas ruas do Rio, durante todo o ano, e pouquíssima é a atenção dada a tais fatos. Novamente, a inerente ligação entre o partido citado e o Grupo Globo, principal regulador, é nítida e traz a reflexão de que este narra fatos não reais, ilusórios, fantasmagóricos, deixando todos reféns da tele eletrônica, do capital corporativo eletrônico mundial e de uma ditadura fascista peemedebista eletrônica global.
Se pensarmos em como Marx aborda Luís, personagem infame de um romance grotesco da cultura política intelectual das massas, que sai como herói de massas trans-subjetivas ditatoriais, percebemos como o autor relembra em detalhes a saga de Luís, indiferentemente de seu caráter ser positivo ou negativo, uma vez que o eterniza na cultura política intelectual.
Ademais, pode-se ver Marx como máquina de guerra de pensamento contra-capitalismo (SILVEIRA, 2016), fazendo mais do que relembrar a época, mas elucidar sobre a farsa vulgar e cômica que as massas trans-subjetivas francesas transformaram em mito, funcionando como um contra poder na cultura política oficial francesa. Dito isso, Marx mais do que eternizava Luís em sua obra, mas assume o protagonista do herói-ditador ao se amalgamar a cultura política intelectual francesa e mundial.
Frente as novas formas de organização de capital e das tecnologias, os textos escritos e impressos perdem muito espaço para a produção digital trans-textual, devido a sua voracidade de circular mais em menos tempo, atingindo expectativas lucrativas. Da mesma forma, a dupla que se “confundira”, autor/herói-ditador, parecem se iludir na realidade da cultura política mundial, transformando-se em máquina de guerra literária (capitalista ou contra capitalista) e ditador eletrônico populista, de carisma prosaico, respectivamente. (SILVEIRA, 2016).
Uma vez que se falou sobre as novas organizações de capital e de tecnologia, é justo colocar como elas se influenciam. O domínio do capital corporativo internacional esteve nas mãos dos Estados Unidos até a segunda metade do século XX, quando pelo processo de desterritorialização da nação, o capital corporativo ultrapassou fronteiras e se tornou digital mundial. Na época digital, os Estados Unidos deixam de ser a nação que dominava o capital, e são apenas uma como os outras, mas que possui um modelo orgânico de relação do eletrônico com a universidade, servindo essa aos interesses midiáticos. Esse modelo é reproduzido em outras localidades, inclusive no Brasil, onde a Globo News, principalmente, roteiriza falas de seus convidados acadêmicos para iludir as massas com falsos discursos de autoridade.
Em consonância a essa mudança, as relações sócias de produção são agora relações sociais trans-subjetivas.
É importante lembrar ainda que o “digital” surge como fruto da associação entre o complexo industrial e o modelo de comunidade de informação, sendo a cultura política digital, mundial, trans-subjetiva, enquanto a cultura política das classes sociais se liga a cultura eletrônica, internacional.
Pois bem, qual a aplicabilidade dessas questões em nosso cotidiano de país?
Em “Razão Digitalis Versus ditadura Fascista Eletrônica Mundial”, tem-se a seguinte passagem: “o estado do Rio de Janeiro é a ditadura bonapartista peemedebista de uma lumpen-oligarquia. No ‘O 18 de Brumário’, o bonapartismo é definido por um aspecto essencial. Trata-se da inscrição na política francesa do lumpen-proletariado bonapartista condensado na instituição política criminosa ‘Sociedade 10 de Dezembro’”.
O Brasil é um país historicamente oligárquico. Vargas, apesar de nascer oligarca, é um Príncipe moderno, e seus sucessores Juscelino, FHC e Lula também o são. O Rio de Janeiro tem em seu “bloco no poder”, garantidor de unidade do país, uma oligarquia membra de um partido político, o PMDB, o qual além de controlar a política, é a máquina de guerra onipresente no estado e conta com a ajuda midiática, majoritariamente do Grupo globo para manter sua hegemonia. O bloco controla as massas pela cultura política, principalmente a informacional, sendo assim, a manipulação dessas tem um grande regulador. A importância de ludibriar as massas está na sua potente trans-subjetividade. O bloco pretende quebrar a relação do Estado populista (criação varguista) com essas massas.
Quando se diz que o estado do Rio de Janeiro é uma ditadura bonapartista remete-se muito aos mecanismos de controle local, como a Sociedade de 10 de Dezembro e a Guarda Municipal, fascistas. Com a ação do Grupo Globo e seu domínio eletrônico, pode-se dizer que o Rio de Janeiro é uma ditadura fascista peemedebista eletrônica global (SILVEIRA, 2016).
Cabe ainda colocar sobre a abrangência nacional desse partido e de tal mídia. Juntamente destes, PT e PSDB, encabeçados por Lula e FHC, cabeças de uma mesma Hydra, bolivarianos, alternadores da presidência, formam o grupo que dita o Brasil. Enquanto PMDB se reinventa a cada conjuntura para continuar por cima, aliando-se aos mais diversos partidos, o Grupo Globo constitui o grupo de poder de uma ditadura eletrônica, PT e PSDB coordenam uma ilusória, fantasmagórica democracia. Fantasmagórica no sentido de ilusório, sendo assim o Estado, como em “A Ideologia Alemã”, um fantasma. Este, na modernidade, pode ser visto no próprio projeto de nação. Tal ideia, seus ideais, fundamentalmente o de cultura, é um fantasma poderoso.
Em “Fascismos”, Silveira propõe a indagação sobre ser possível caminhar do bloco político bolivariano PT/PMDB/PSDB para uma ditadura fascista bolivariana, a qual graças ao Grupo globo, também seria eletrônica.
Pode-se concluir que o grande enfoque são as massas. Essas se despertam ocasionalmente, tendo sua fé em algo positivo renovada, elegendo presidentes ou manifestando-se nas ruas por sua queda. É esse poder que assusta a burguesia, a oligarquia dependente do canal midiático para conter a trans-subjetividade das massas, ou melhor, torná-las apoiadoras de seus interesses.
As massas que suportaram Napoleão na França, transformando-o em mito trágico, construindo a história mitológica, elegeram Luís, 51 anos o governo de seu tio acreditando que o velho mito poderia reviver em seu sobrinho, continuando com o mito Bonaparte, mas já como uma farsa, cômica e vulgar, defensor da ordem burguesa.
No Brasil, massas legitimaram o governo ditatorial de Vargas, inaugurando uma era de populismo. A ditadura militar veio por fim a revolução populista, impondo uma contrarrevolução conservadora (sempre). Na década de 1980, a crise da economia de guerra civil fez com que a revolução bolivariana retirasse o comando do país da política e da economia, passando-o a economia de mercado. Essa, associado a corrupção eletrônica, são fundamentais para a economia de guerra. O bolivarianismo brasileiro confronta com o populismo.
Qual papel podem ter as massas na reconstrução da República brasileira, na passagem da sua cultura para cultura política, no enfrentamento aos reguladores midiáticos, de que forma podem deixar de ser uma unidade cega e exercerem seu poder trans-subjetivo, no momento muito fraco comparado ao global digital? Deve-se ter em conta que as massas simulam a paz, visto que não podem ser como as máquinas de guerra aqui descritas, violentas e fascistas.
De fato, a contrarrevolução bolivariana está em marcha, observável se atentarmos para o que acontece em nossas instituições e em nosso país, desmantelado por interesses dominantes muito contrários a ideais republicanos e democratas.



Referências Bibliográficas:
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. “Soberania e Disciplina”. Graal, 2009.
MARX. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Pensadores. SP: Abril Cultural, 1974.
SILVEIRA, José Paulo Bandeira. Marx - Autodissolução da Democracia de 1848.
SILVEIRA, José Paulo Bandeira. Fascismos. Disponível em: http://politicajosepaulobandeira.blogspot.com.br/. 2016.
SILVEIRA, José Paulo Bandeira. Razão Digitalis Versus Ditadura Fascista Eletrônica Mundial. Disponível em: http://politicajosepaulobandeira.blogspot.com.br/. 2016.
SILVEIRA, José Paulo Bandeira. Teoria da Trans-subjetivação Ditatorial das Massas. Disponível em: http://politicajosepaulobandeira.blogspot.com.br/. 2016.