por Almir Pereira
Por que não tomar parte na luta de
massas governistas e anti-governistas que ocupa as ruas a
favor e contra o impeachment de Dilma Roussef? O impeachment é um golpe de
Estado por falta de base jurídica como quer Dilma e seus aliados? O
impeachment é o retorno do império da lei como querem os
partidários do impedimento da presidente?
As massas sujeito zero burguês
sabem que o segundo passo do impeachment é a implantação do Plano
Temer, que vai atacar frontalmente os direitos sociais e o que ainda
resta dos serviços públicos do país. Por isso tais massas se
agarram à defesa da presidente como seu último baluarte de
resistência ao plano burguês de Temer.
Acontece que ao fazer isso as
massas sujeito zero burguês apostam em uma posição política
regressiva, já que a contrarrevolução bolivariana de Dilma está
acelerando a catástrofe econômica e política do Brasil.
Dilma é parte da implosão econômica a que o bolivarianismo (Era
FHC + Era Lulista) levou o país e sua reação à tal implosão é
de uma indefinição extrema, inclusive com traços de reação
anti-social. O desencaixe Brasil do capitalismo corporativo digital mundial em virtude da estratégia bolivariana de manter-nos sob o domínio do capitalismo de engenho lançou a nação no abismo da desindustrialização e da submissão ao capitalismo de commodities (agrícolas e minerais). A crise também é uma crise da hegemonia do capitalismo de commodities no bloco-no-poder.
Em uma demonstração de total
falta de rumo e de inconsequência, Dilma acabou de sancionar a lei
Mateus (lei Aloísio Nunes Ferreira – PSDB), a lei anti-terror, e
garantiu um dispositivo totalitário funesto para que Temer aplique, assim que assuma a presidência, seu plano burguês contra as massas, do funcionalismo público e
defensoras dos direitos sociais.
Outro traço míope das massas
sujeito zero burguês ao apoiarem Dilma é o de se deixar subssumir à
lumpencultura que é dominante no atual governo. JP Bandeira
demonstrou em texto recente como a lumpencultura tem um
papel preponderante na desterritorialização do Estado nacional.
Subssumidas a tal cultura política as massas sujeito zero burguês
alienam a defesa dos direitos sociais à subclasse política lúmpen,
que tem como objetivo ontológico o uso privatista dos recursos
públicos.
A garantia dos direitos sociais e
do Estado brasileiro é indivisível de uma recusa frontal da
lumpencultura da subclasse política. As massas sujeito Ø burguês
estão inscrevendo-se no imaginário nacional como defensoras da
fração lumpen de esquerda, da subclasse política brasileira.
Num provável governo Temer o
combate a tais massas irá usar essa imagem para atacá-las como
massas coniventes com a corrupção. No entanto, tais massas já se
alienam ao imaginário bolivariano há décadas e seu destino já
parece estar selado, assim como o destino do governo Dilma: ser
suplantada por um golpe de Estado.
O tema do golpe de Estado colocou
em campos opostos alguns ministros do STF e a presidente Dilma
Roussef na semana que passou. Para Dilma não há base jurídica para
seu impeachment, por isso o trâmite deste no Congresso seria um
golpe de Estado em gestação. Para os ministros Dias Toffoli e
Cármen Lúcia, do STF, se o Congresso aceitar a proposição de
impeachment, que lá tramita atualmente, isso não é golpe, mas
apenas um procedimento constitucional.
Do ponto de vista jurídico os
ministros do STF estão corretos, excluindo-se o adendo que Eduardo
Cunha fez à petição inicial baseada nas “pedaladas fiscais”.
Cunha anexou ao pedido as denúncias feitas por Delcídio do Amaral
ao Ministério Público Federal. Esta ação de Cunha foi uma
flagrante ilegalidade golpista, que a Comissão Especial do Impeachment já
corrigiu descartando tal anexo.
A questão do golpe de Estado não
é jurídica como afirma Dilma. Ela é política. Conversando com um
amigo acerca disso ele declarou: “se o atual processo for golpe,
como quer a Dilma, então o impedimento de Collor em 1992 também foi
golpe”, juridicamente meu amigo está correto, mas politicamente é
a Dilma que está certa, embora ela não afirme que é um golpe de
Estado apenas do ponto de vista político.
Em 1992, Itamar Franco desferiu um
golpe de Estado em Collor e nas massas democráticas que se opunham
ao déspota. Tomou o poder um político pusilânime que se manteve calado diante do despotismo collorido até vislumbrar o momento
favorável à tomada do poder. A substituição do déspota pelo
pacto oligárquico que gestaria o bolivarianismo de FHC+Lula não era
o que as massas democráticas de 92 almejavam.
Já é quase um fato que o PMDB e
congêneres desembarcaram da liderança que Dilma Roussef/ PT e Lula exercem no modelo político lúmpen? Por que isso está acontecendo? Porque não
acreditam mais na capacidade de liderança destes para reorganizar a
política e a economia e acham mais viável um novo pacto
lúmpen-burguês com o PSDB. Porque o PMDB e congêneres chegaram a
esta conclusão? Porque eles entendem que o programa de saída da
crise está consubstanciado nos planos Temer I e II (capitalismo de
engenho sem direitos sociais e sem o Estado brasileiro) e não lhes
parece que seja viável fazer o PT aceitar isso, por mais que o
partido de Lula já tenha feito várias concessões inimagináveis ao
passado petista. Além disso, os conspiradores do PMDB-PSDB esperam que a derrubada do governo Dilma sirva de bode expiatório para salvar da Operação Lava-jato a fração
lumpen-oligárquica (PSDB/ PMDB etc) que subirá ao poder com o
impeachment.
Em 2016 o PMDB está consolidando
“sua identidade de o maior
partido conspirador da era da Constituição de 1988”.
No texto deste link pode-se entender em detalhe como a não regulamentação, até
hoje, dos crimes de
responsabilidade do presidente da república, exigida pelo Parágrafo
Único do artigo 85 da Constituição, de inspiração peemedebista,
garante uma situação
constitucional “ao
sabor da formação do algorítimo/consenso ditatorial da classe
política contra o presidente da República”.
A
conspiração de Michel Temer para aceder ao cargo de presidente da
república não o transforma num criminoso? No emaranhado de crimes eleitorais que envolve a Presidente da República, seu vice e uma fração expressiva do
Congresso Nacional só uma eleição geral em nível federal pode
restabelecer alguma legitimidade nos termos da Constituição de
1988, para
a qual
o povo é
o soberano.
A
dissolução da representatividade a que a lumpencultura relegou os
poderes executivo e legislativo federais só pode ser superada por
uma eleição geral limpa e confiável. Qualquer
outra alternativa representa um golpe de Estado contra a soberania
popular e
o aprofundamento de conflitos que só podem nos levar em direção ao
pior.
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